A queda do muro
 
 
 
A fala da ministra de Direitos Humanos sobre meninos usarem a cor azul e meninas  a cor rosa foi uma metáfora infeliz, no contexto errado, resultando em celeuma que poderia ser evitada. Mas, trouxe-me à memória alguns eventos do passado. Em 1989 quando o muro de Berlim caiu. Teve um estudioso que disse: “Acabou-se a era das ideologias e começa a era das religiões”.

Desde então, tenho visto o crescimento exponencial das religiões que têm ocupado cada vez mais os espaços e vidas das pessoas.  Nada contra, acho até que precisamos mesmo de algo que nos dê fé. No Brasil, as religiões evangélicas tiveram crescimento geométrico nas duas últimas décadas, a ponto de preocupar a cúpula católica, tradicionalmente maioria no Brasil.

O Estado é laico, mas as religiões foram muito bem protegidas na Constituição de 1988, que lhes garantiu isenção de impostos e liberdade de praticar seus cultos da forma que lhes aprouver, incluindo o proselitismo; em alguns casos, até com ofensas a outros, infelizmente. Mas, isso é melhor que podar a liberdade de expressão e pensamento, penso eu.

A história nos mostrar que os sistemas e ideologias se sucedem. Sempre haverá uma ideologia em contraposição a outra; quando uma cai é substituída. Com a queda do muro de Berlim, ficamos sem nada para preencher aquele espaço, assim, a religião ocupou o vazio ali deixado, desde então.

Ontem, diante da fala da ministra, que é até insignificante se não fosse dita por uma autoridade, pois cada um veste o filho como quiser, e digo isso, sem adentrar no âmbito político, pois, para alguns, parece que ainda estamos nas eleições, esquecendo-se que o bom da política é que passada as eleições, a gente se une para falar mal dos políticos, rss.

O problema da religião é quando ela quer ditar o que é bom para todos, sendo que, o “bom” para mim, não necessariamente, o será para o mundo. Alguns religiosos chegam ao ponto de dizer que quem não concorda com o que eles pensam está contra Deus, transformando Deus em propriedade privada de alguns grupos.
 
Quando eu fazia o ensino fundamental, na década de 80, era obrigatório meninos usarem calças e meninas saias pregueadas. A saia era verde e a blusa branca com punhos verdes e sutiã bege  sem renda. A saia tinha que ser na altura dos joelhos.

Ainda assim os meninos aprontavam. Era comum eles chegarem perto da gente fingindo mostrar algo. Na verdade era um artifício para encostar o pé com um espelho de bolso entre nossas pernas e assim enxergar nossas calcinhas. Tinha até apostas para saber quem conseguia  ver mais calcinhas.


Bem... não vou dizer que as meninas eram santas.  As saias nós dobrávamos na cintura para ficar acima do joelho, o sutiã a gente vestia com renda e dizia que o outro estava molhado; se fosse um menino de quem a gente gostasse, fingia-se que não tinha visto o espelho, caso contrário, era denunciado à  diretora. O castigo era cruel.  

São produtos da moral de uma época e qualquer semelhança é mera coincidência. Naquele tempo, “meninas boas iam para o céu, as más, iam para qualquer lugar!” Se rosa ou azul, não importa, as pessoas são como mingau, quanto mais se aperta, mais sai pelos dedos. E os muros? Vão sempre cair e outros serão levantados.  
 



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