ANO NOVO VIDA NOVA?

Nada é como antes, ou, nada se parece como antes. Os meus sentimentos estão confusos, não os compreendo, não sei como lidar com eles, embora, em teoria a coisa certa a ser feita pareça clara, no entanto, ela se torna complexa e incompreensível. A disposição não está ao alcance das mãos, a vontade foge ao coração, e a alma está inquieta e sem lugar. Caminho de um lado a outro em uma falha tentativa de aquietar meu espírito perturbado, mas não consigo, nada do que eu faça surte efeito. Tentei ler e não deu certo, assistir programas na televisão; também foi inútil. Não sei o que fazer. Resta-me apenas o trabalho, o meu… Como vou dizer… O meu desafio diário de enfrentar a mim mesmo em um mundo de trevas, os meus medos e anseios disposto em prateleiras, essa talvez seja a melhor definição do meu dia a dia no trabalho.

Chego ao trabalho, a mesma angústia de sempre, os mesmos desafios que se intensificaram, início de ano, princípio de tudo? Na verdade, está parecendo mais o fim de tudo. Vejo apenas um amontoado de almas desesperadas, buscando tudo quando, na verdade, não sabem de nada. O quê fazer? Tento aquietar-me, mas, tal coisa é simplesmente impossível no momento. Meu desespero maior é o meu grande desafio, tento manter o sorriso no semblante, a aparente calmaria quando tudo é tempestade, quando, na verdade, por dentro, tudo é caos. Quero fugir, correr, gritar, na verdade, desejo desaparecer deste lugar monstruoso. Meu coração está aos pedaços, meus desejos… Não os compreendo. Vejo incontáveis pessoas vazias, caixa de ossos ambulantes, apenas isso, nada mais.

A noite chega, e a noite é implacável, não perdoa aos corações fracos e inconstantes. Sou um produto do nada, sou a vítima da noite em terra estranha, não tenho destino. É hora de ir embora, vou caminhando a esmo na estrada deserta. Buracos, calçadas, asfalto, silêncio, tudo e nada. Desejo não desejar, é a única coisa que quero, estar distante e sozinho nestes últimos dias do ano.

A sombra funesta,

Acena da janela,

A sombra funesta,

Se aproxima,

A sombra funesta,

Me quer… Te quer também,

A sombra funesta, de foice em punho, rastejante,

Quer às almas dos homens,

Quer a minha e a sua também,

A sombra funesta,

Escondeu-se na sombra noturna.

Tudo passou, toda a festa findou. Toda euforia natalense, toda alegria da passagem de ano se esvai rapidamente em um piscar de olhos, o que era festa, bebedeira e gritaria, se desfaz em silêncio e quietude. É manhã de ano novo, uma nova jornada se inicia, promessas foram feitas, desejos, sonhos. Daqui a há alguns dias… Nada, exatamente nada será lembrado. Estaremos todos no limbo da repetição.

Dona Maria varre a calçada, silenciosa, espanta os pombos, como sempre faz todas as manhãs, termina ano e entra ano, lá está ela, de vassoura nas mãos, cumprindo o seu dever diário, lembrando a todos o que, na verdade, somos; “Meros bípedes executando os seus deveres de forma programada”. Que o ano se inicie, e que tenhamos novos olhares para as mesmas velhas coisas de sempre.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 05/01/2019
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