AZUL OU ROSA? É ISSO MESMO?

Me parece que o debate poderia ser sobre Sexualidade e Gênero. Seria riquíssimo ouvir o que Biologia e Medicina, Psicologia e Sociologia têm a dizer sobre isso. Nós, porém, preferimos incorrer no reducionismo das cores ou nas caricaturas sobre o que foi dito.

Gosto muito de um pensamento atribuído a Voltaire:

“Posso não concordar com uma só palavra sua, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-la.”

Querer silenciar alguém, até aos tolos, é fortalecer e criar monstros cada vez maiores. Sou psicólogo, estudo psicanálise, escrevo, sou um leitor contumaz e, principalmente, aluno. Na fila do pão, sou – e quero ser - um qualquer, mas acredito que meu papel, na clínica e na comunidade, deve ser, na maior parte do tempo, fomentar o respeito, o aprofundamento do pensamento e do debate. Busco me ocupar do que é dito pelas pessoas, públicas ou não, mas sabendo que, por trás das palavras, se ocultam mensagens a serem lidas. Saber ouvir é premissa do meu trabalho e eu busco me aprimorar nesse atributo necessário. Talvez um dia eu fique realmente bom nisso. Trabalho com a palavra e com o discurso subjacente. Por isso, lamento muito quando os debates ficam no plano imediato do que é dito, na literalidade, naquilo que há de mais rudimentar e sensorial. Há um debate urgente, mas ele é mais profundo do que isso; isso que está posto diante dos meus olhos. É lastimável que a sexualidade das pessoas seja palanque político e é igualmente lamentável que o diálogo não ocorra, mas que sejam feitas não críticas ao conteúdo, e sim “caricaturas de capas de livros” que se pretendem abarcá-los em sua totalidade. Me entristece ver a massa, que tem o poder em suas mãos, elegendo, ora um guru, ora outro, para falar por ela. Descobri que a maioria dos gurus até atende a interesses coletivos, mas só quando são seus também e aprendi que a maior parte de nós não quer o fim das tiranias, mas a implementação de nossas próprias. Aprendi que as maiores tragédias produzidas pela humanidade ocorreram por causa de pessoas cheias de boas intenções e vontade de transformar o mundo em um lugar melhor. Tenho, por conta de meu percurso, formação e leituras, maior afinidade com questões mais atreladas à subjetividade, ao simbolismo e às ciências humanas, mas minhas aptidões não desqualificam outros campos do saber, algumas vezes objetivos, outras nem tanto. Quero validados os conhecimentos acumulados pela História, Psicologia, Psicanálise, Sociologia, Filosofia, Ciências Políticas e outras áreas de conhecimento para as quais tenho inclinação natural, mas nem por isso eu odeie e pretenda sepultar a Biologia, Medicina, Física, Astronomia, Direito etc. É triste que, com tantos assuntos importantes para tratarmos, escolhamos remoer, geralmente por ressentimento de perdedor, temas que têm vocação para a superficialidade. O título de uma obra é importante, mas ficar nele sem acessar a sua inteireza é quase a mesma coisa que não fazer nada a seu respeito. Por isso, é preciso um mergulho mais profundo e corajoso. Urge sermos menos ressentidos e dedicados aos argumentos e à reflexão, a não ser que estejamos todos satisfeitos com o status quo de nosso ambiente político. O que queremos discutir quando discutimos?