Crônica de natal

Final de ano chegando, a cidade se prepara para as festas. As pessoas andam de um lado para o outro à procura de um calçado novo, uma roupa da moda, nem o biquíni estiloso pode faltar. Afinal, é preciso sapecar o guardado nas praias depois do Peru de Natal.

Final de ano pra mim mesmo combina com prova, sistema e muito, mais muito cansaço.

Esses dias até pensei em me presentear. Comprar algumas coisas, mudar o visual. Mas sabe o que eu queria mesmo? Uma porção caprichada e adornada com laço brilhoso de tempo. Sim, tempo. Queria também aprender a desacelerar. Tá, mas aí não é algo que se possa comprar, preciso mesmo desenvolver. Piorou tudo, nem tenho o tempo de ter tempo para fazer curso, terapia e aprender essas coisas então, dar um trabalho…

Mas e não é que ontem, me deram um pouquinho de minutos corridos pra degustar!? Pois é. E lá fui eu fazendo planos de desfrutar uma vez na vida da preparação para a aparência natalina. Sai empolgada. Pensei logo que a criança estava precisando de uma sandália nova, a que tem já está pequena. O marido está precisando de uma calça jeans pra largar aquela desbotada. E eu… eu ainda bem mais que eles.

Desci do ônibus apressada não como quem procurava algo, mas como certa do que vai comprar. E na certeza da minha necessidade olhei as horas e calculei o tempo, assim, como se as lojas estivessem a minha espera e os funcionários todos a disposição.

Na primeira que entrei olhei rapidamente o que não queria levar, porque o que queria mesmo era muita coisa, tudo novo. Salvo engano, isso não me traria a alegria no sorriso de volta. E aí apressadamente, passei no caixa e fui em direção ao banho de loja. Roupas, calçados… ah, e o tempo daria tempo pra tudo isso. Apenas vinte minutos para o próximo ônibus, e as calçadas lotadas de transeuntes dificultando o trajeto. As lojas mais pareciam Black Friday. Não existem palavras que descrevam aqueles ambientes comerciais. Ou existem... Loucura.

O calor acelerou e me convidou para um açaí. Mesmo sem companhia, pedi e enquanto o rapaz o preparava avistei o amarelinho passando, o ônibus. Agarrei o copo e literalmente corri para a rua de trás, na esperança de ainda alcançá-lo. Murici? Não. Acabara de passar, disse uma mocinha encostada numa parede, que há tempo esperava por outro ônibus.

Ah, já que perdi, vou voltar e ver o que dará tempo de comprar. O surpreendente é que uma dor no meu corpo surgiu e parei na esquina à sombra de uma árvore e fiquei. Vi as pessoas caminhando de um lado para o outro, entrando e saindo de loja. Vi tantos carros passarem e nenhuma força de seguir, na verdade não tive ânimo de pesquisar nada. Nem ao menos sabia o que queria. E parei pra degustar o tempo com banana, granola, açaí e um pouquinho de leite condensado. O tempo foi se gastando, uma hora de vida se esvaiu pelos dedos. Logo, outro ônibus surgiu a vista, embarquei e fui pra casa.

19 e 27/12/18

Ionara Lima
Enviado por Ionara Lima em 04/01/2019
Reeditado em 30/04/2021
Código do texto: T6542400
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