A Preta Gertrudes
Lá pelo mundo nórdico, há muitas mulheres chamadas Gertrudes, também arianas, mas foi num contexto escuro da escravidão em que Marcos Cavalcanti descobriu uma Gertrudes bem diferente; achou-a entre alfarrábios, documentos, livros e tomos da Justiça, das circunstâncias infernais da escravatura. Se o escritor não tivesse sido original, a preta Gertrudes o teria feito. Escrava, com dotes extraordinários de inteligência, de sagacidade, por cima dos da beleza do seu corpo, conquistou sua “Carta de Alforria”, que foi posteriormente objeto de negociação, como diz o livro em cuja capa Gertrudes é desenhada pelo famoso Flávio Tavares; ela foi revendida em praça pública como pagamento das dívidas do seu então senhor, ao Frei João da Encarnação, avarento cobrador, que perdoava outros pecados, menos o dinheiro que tinha emprestado...
Um frade formado pela indiferença da Igreja, na época, ao desumano maltrato com a alma negra. Quando, somente o sentimento e a vontade de liberdade libertaram os escravos do jugo senhorial; o contexto econômico já demonstrava ser a escravidão coisa desvantajosa, portanto, debilitada. Havia uma saída para os engenhos: deixar de ter e alimentar escravos para “pagá-los” num miserável regime do cambão, tendo-se o beiju como moeda. Assim, antes da própria Princesa Isabel e da Igreja acharem que "existe pecado abaixo da linha do Equador", Gertrudes, numa bela altivez como a de Zumbi dos Palmares, reivindica pacientemente os seus direitos; daí, ora presa, ora solta, junta-se ao índio Kauê, gerando os filhos Porã e Potyra. Como escrava, incansavelmente, lutou, nos tribunais dos juízes brancos, para ganhar as ruas, saindo das grades carcereiras, mas sempre apontada como acusada...
Foi um parecido “habeas corpus” que não a deixou livre de outras perseguições que a tornaram distante da liberdade totalmente conquistada. São fatos reais, “sui generis”: contudo, a injustiça negociada não fez calar o grito libertador de Gertrudes. Escrava, porém sábia; sofredora, mas não alquebrada, altiva, Gertrudes foi protagonista de uma interessante história, que, no Brasil, soma-se à literatura da cultura afrodescendente.
Lá pelo mundo nórdico, há muitas mulheres chamadas Gertrudes, também arianas, mas foi num contexto escuro da escravidão em que Marcos Cavalcanti descobriu uma Gertrudes bem diferente; achou-a entre alfarrábios, documentos, livros e tomos da Justiça, das circunstâncias infernais da escravatura. Se o escritor não tivesse sido original, a preta Gertrudes o teria feito. Escrava, com dotes extraordinários de inteligência, de sagacidade, por cima dos da beleza do seu corpo, conquistou sua “Carta de Alforria”, que foi posteriormente objeto de negociação, como diz o livro em cuja capa Gertrudes é desenhada pelo famoso Flávio Tavares; ela foi revendida em praça pública como pagamento das dívidas do seu então senhor, ao Frei João da Encarnação, avarento cobrador, que perdoava outros pecados, menos o dinheiro que tinha emprestado...
Um frade formado pela indiferença da Igreja, na época, ao desumano maltrato com a alma negra. Quando, somente o sentimento e a vontade de liberdade libertaram os escravos do jugo senhorial; o contexto econômico já demonstrava ser a escravidão coisa desvantajosa, portanto, debilitada. Havia uma saída para os engenhos: deixar de ter e alimentar escravos para “pagá-los” num miserável regime do cambão, tendo-se o beiju como moeda. Assim, antes da própria Princesa Isabel e da Igreja acharem que "existe pecado abaixo da linha do Equador", Gertrudes, numa bela altivez como a de Zumbi dos Palmares, reivindica pacientemente os seus direitos; daí, ora presa, ora solta, junta-se ao índio Kauê, gerando os filhos Porã e Potyra. Como escrava, incansavelmente, lutou, nos tribunais dos juízes brancos, para ganhar as ruas, saindo das grades carcereiras, mas sempre apontada como acusada...
Foi um parecido “habeas corpus” que não a deixou livre de outras perseguições que a tornaram distante da liberdade totalmente conquistada. São fatos reais, “sui generis”: contudo, a injustiça negociada não fez calar o grito libertador de Gertrudes. Escrava, porém sábia; sofredora, mas não alquebrada, altiva, Gertrudes foi protagonista de uma interessante história, que, no Brasil, soma-se à literatura da cultura afrodescendente.