MEMÓRIAS DA PRIMAVERA
MEMÓRIAS DA PRIMAVERA.
O arauto da manhãs já veio anunciar sua chegada, flores e cores de uma primavera desolada.
Rosas pálidas, begônias aflitas, cravos e jasmins doentes, pela seca infinita.
Chuva que vem molhar o chão, encher os riachos e aguar a plantação, sede, fauna em extinção.
Primavera somente, ciclo presente na agonia que se estende. Pilares catalogados em minha existencia, marcas de um tempo que não dá prá esquecer.
Infância cercada pelos bouganvilles rôxos, na pequena Mantena, numa casinha humilde, mas de dignidade plena. Tempo dos horrores e Vandré falava de flores, fúnebre como o bouganville rôxo e espinhento, da cor dos ataúdes dos meus heróis, enfeitados com girassóis.
Sob o signo da tirania vinte anos se seguiram, muitos partiram para o exílio, mães sem auxílio, chorosas nos funerais, daqueles que não voltariam mais. Em meio à tanta covardia outra solução meu pai não via, viemos parar na capital, num lugar especial.
Santa Tereza, musa que me fez poeta e nos versos a destreza. Ali a primavera tinha mais cores, apesar dos fuzis eo sangue espalhado pelos ditadores.
E enfim a liberdade nas celas da irresponsabilidade. O poder de volta ao povo, estôrvo. Corrupção à todo momento, interesses ditando o comportamento.
O "boom" da indústria automobilistica e a morte entrava na estatística, estradas ruins e acidentes fatais, o que já não era mais culpa dos generais.
E tome poluição, calor abrasador, devastação. A densa fumaça negra espalhada na atmosfera, sinistra torturando a terra. Enquanto isso na Casa Branca ou no Planalto a indifença falava mais alto, o protocólo de Kyoto jogado no esgôto, como retorno do que pagamos do tão caro imposto.
Borboletas e vagalumes sumindo do cenário, em breve somente em dicionários, como incetos lendários.
Energia renovável para um ar mais saudável, pouco provável, lamentável.
Resultado do consumismo exacerbado, lucro dobrado, fast food, colesterol, ao óbito, infartado.
A ansiedade deixando seu legado. Assim caminha a humanidade, sem piedade, do planeta, da própria vida, meta estabelecida.
O fim dessa corrida pode ser desastroso se Deus mais uma vez, por nós não for piedoso.
Primavera, quem dera, já era...