A MUSA E O MITO

Sua antecessora era “bela, recatada e do lar”, lembram-se? Mas, com toda a razão, o elogio não pegou bem nas hostes feministas por reduzir a mulher a um papel figurativo e secundário, quase de mero enfeite. Agora, quem viu o desempenho da atual primeira-dama na solenidade de posse não vai falar a mesma coisa, claro, mas pode sentir-se tentado a ressuscitar um velho ditado que tem a mesma carga depreciativa, ou seja, “atrás de um grande homem há uma grande mulher”.

O sujeito acha que está elogiando mas, na verdade, acaba caindo na mesma armadilha reducionista. Tudo por causa do advérbio “atrás”. Cinco letrinhas que fazem toda a diferença porque colocam a mulher na rabeira do homem. Se ela está atrás, não importa que também seja grande, pois estará coberta pela sombra dele, do protagonista. Quem brilha é ele.

Entretanto, na minha visão, se alguém brilhou na solenidade de terça-feira foi ela, Michelle. Transmitiu simpatia, firmeza e elegância. Enquanto o novel presidente caminhava meio desengonçado, ela desfilava. Ele, fisionomia carrancuda; ela, a distribuir sorrisos. Ah, e aquele discurso sem palavras foi mais retumbante do que todos que ele proferiu no correr do dia. Ali, foi a primeira-dama quem deu o tom da cerimônia. Não disse nada mas falou tudo. Não deu um tiro mas acertou o alvo. E ele, circunspecto, atrás dela.

Depois veio o beijo. Dizem que foi quebra de protocolo. Bobagem. Desde quando o beijo – que é símbolo de união - quebra alguma coisa?

Então, daqui pra frente, não é só o mantra “Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”. É também aquele antigo ditado, refeito nos seguintes moldes: ATRÁS DE UMA GRANDE MULHER HÁ UM PRESIDENTE.

Pode ser coincidência, mas nos Estados Unidos, há pouco tempo, aconteceu a mesma coisa com outro presidente e outra Michelle. Quem se lembra?

Portanto, é melhor o mito JAIR se acostumando. Ele recebeu a faixa presidencial, mas foi a primeira-dama quem brilhou no céu na pátria naquele instante.

PÁTRIA AMADA, BRASIL!