Cheiro de tinta fresca

Moro com minha Vó materna desde sempre. Este foi o primeiro natal e virada de ano que passei fora de casa. Estive fora os últimos 10 dias do ano de 2018. Durante 7 dias, adentrando o natal (25), fiquei na fazenda da Universidade, realizando experimento da minha graduação. Os últimos 3 dias viajei para outro estado, esperar o início do novo ano, respirar novos ares, apreciar novas cores. Foi a primeira vez que sai do meu estado de origem.

Não sei vocês, mas quando viajo para outros lugares, me atento para a beleza das cores, das combinações entre elas e, com o ambiente natural que o lugar oferece. Cada família decora sua casa com as cores que lhe permita contar uma superstição, sua história, sentimento, moda ou até mesmo por ser última opção que cabe no bolso. Para a rua de uma cidade ser bonita, não precisa de casas e prédios coloridos assim como o arco-íris, basta apenas uma única cor dançando a melodia em suas tonalidades. Claro, não sou um colometrista (especialista em cores), porém não sou daltônico, não confundindo, procuro sempre ter uma percepção a profundo sobre o que as cores daquela cidade pretendem ou não nos contar algo.

Ao longo da estrada, já em terras levemente estrangeiras, quando olhar para o lado por fora da janela do carro, antes de chegar à zona urbana, apreciamos a vegetação e seus tingimentos naturais. Aquela pigmentação verde abundante, com a altivez das diferentes tinturas das flores. Quando batia o vento, sacodia as cores das plantas trazendo um aroma agradável. Me dei conta de que é uma excelente maneira de se aproveitar uma viagem por terra.

Ao entrar em zona urbana, percebi imediatamente que estava bem longe da minha terrinha natal. Olhando aquelas casas com arquitetura, pinturas e desenhos bem distante do que costumava ver. Claramente é um povo com preferências de combinações de tinturas bem peculiares. Nada tão extraterrestre, mas bem diferente. No meu ponto de vista, extravagante às vezes. Até mesmo nas casas, digamos que mais humildes, não se perde o capricho de uma designer bem trabalhado.

Como é uma região litorânea, fui em busca do mar e aguardar a contagem regressiva. Chegando ao mar, avisto aquela tonalidade de azul sem fim. É quando uma cor ganha som, força, imensidão, vida. É quando a cor ganha um planeta: “Planeta Azul”. Quando chega a noite da virada de ano é de se esperar o show de fogos apontados no céu já ornamento pelas estrelas. Sem dúvida é um espetáculo de cores brilhantes, saltitantes com a chegada do novo.

Enfim tenho que retornar, matar a saudade de minha Vó. No regresso à minha cidade, sinto que os prédios e ruas precisam provar algo novo. Falta vivacidade. Na rua da casa da minha Vó, sinto um cheiro bem familiar. A cada passo adiante o cheiro torna-se mais forte, até ganhar forma, bem de frente à casa que me espera. Deparo-me com o muro externo pintado com aquele vermelho aconchegante, daí a senhora abriu o portão de entrada e me recebeu com um abraço cheio de amor. Na fachada interna, aquele verde soprando um sentimento de esperança de dias melhores. Entrando na casa, vejo todas as paredes internas com um branco que me enchia de paz. É tradição renovar as cores da casa todo primeiro de janeiro.

Monteiro Farias
Enviado por Monteiro Farias em 02/01/2019
Reeditado em 03/01/2019
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