Pura Poesia

A noite se deitou no prado. Era um céu magnífico e sem lua. A negritude impedia qualquer visão e tudo estava emudecido... Não se ouvia nem o movimento de animais noturnos.
Saí para apreciar o firmamento. Localizar a parte leitosa que se vê ao olhar para a maior porção da galáxia. Era o meu passatempo preferido na fazenda. Gostava de pescar também. Podia ficar horas quieto no barco, as vezes sem pescar peixe algum, mas dava gosto ver os vagalumes e ouvir o coaxar da família de anfíbios que se distribuía às margens do açude.
As pequenas luzes dos insetos intrigavam e comoviam-me... Como a natureza poderia forjar algo tão lindo? Eram os pirilampos e as borboletas, aqueles que me roubavam horas de reflexão no campo.
Mas nesse dia nem bichinho luminoso, nem morcego percebi voar. Sentei-me no degrau da varanda e fixei meus olhos na abóboda que, diga-se de passagem, de abóboda não tem nada; cravejada de pequenos brilhantes que pareciam me espiar.
Num certo momento tive a impressão de ouvir até um diálogo entre as jóias pequeninas:

- Olhem naquele ponto azulado!
- Onde tem um sujeito sentado?
- Sim, lá mesmo, coitado...
- Solitário num planeta tão povoado!

Balancei minha cabeça na certeza de que havia sonhado. Mas para ver melhor o céu, resolvi esticar o corpo num gramado defronte a casa sede.
Olhava aquela tela enfeitiçado quando pude ouvir o que parecia um cochicho:

- Ei você, homem do espaço! Não se faça de rogado... Não vá dizer que não escuta a nossa voz ou que não se importa pelo que há além do seu planeta tão saturado?
Tem água e tem terra, tem atmosfera... Campo magnético e até lua, uma pequena esfera...

E assim eu inferi que havia alguma magia naquela noite diferente. Pensei que pudesse estar louco, mas realmente estava ouvindo as vozes das estrelas. Tive vontade de chamar mais alguém, mas estava só naquele dia. Olhava no entorno mas a escuridão não permitia ver nada além de Simão, o velho cão que imóvel, se deitara ao lado dos meus pés.
Quando resolvi me recolher, com uma pontada de medo no peito, vi uma "chuva de estrelas" caindo no pasto. No instante que riscavam o céu, ouvi uma algazarra como se ouve num parque infantil... E foi muito claro quando pude ouvir:

- Uhuuuuuu, vamos lá galera, mergulhar na atmosfera! Não somos estrelinhas, somos só rochas pequeninas, meteoros na verdade, em cascatas bem finas!

Eu sorri com aqueles versos... Depois tive até uma crise de riso. Simão estava apagado e nem se mexeu. Então, passada a euforia, fechei os olhos e ali mesmo adormeci, mas antes agradeci aos Céus tamanha maravilha... Era mesmo, a Criação, pura poesia!

Cláudia Machado

 
Cláudia Machado
Enviado por Cláudia Machado em 02/01/2019
Reeditado em 13/02/2019
Código do texto: T6540821
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