Vou voltar a ser eu
Quando era criança no oeste do Paraná, quando chegava o final de ano, sempre íamos à casa de meus avós maternos ou paternos (nono e nona). Era sempre dias de expetativas de sonhos; afinal era fim de ano e viajaria de carro (ônibus, jardineira) por aquelas estradas de chão, poeira, buracos, era uma verdadeira aventura, obviamente quando isso era possível. Lembro-me que numa dessas viagens chovia em profusão e em determinado trecho o motorista (chofer era o nome de então) pediu para que todos os adultos saíssem e fossem para fora empurrar o veiculo para sair do atoleiro, todos foram sem questionar. Da janela podia ver o barro, aquelas pessoas todas limpinhas em seus trajes simples daquele sertão em minutos mergulharem na sujeira e ficarem como porcos lá no chiqueiro. O carro como diziam dava acolejos deslizava, quase tombava, saltava pelos buracos cheio d’água, roncava, a fumaça o cobria de negro, demorou muito, muito tempo, mas saiu e todos aplaudiram, uma grande vitória daquele mutirão. A viagem era 30 km quando muito e era preciso caminhar mais 12 km a pé da cabeceira da estrada até o sitio na beira do córrego onde moravam meus nonos, meu tio e tia e o os primos. Era um longo percurso cansativo naquele reta.
Mas tudo fazia parte da festa de ano dizia meu pai. Alegria pura quando chegávamos e mal dava tempo de descansar, íamos pra roça apanhar milho verde, fazer curau, pamonha, bolo de milho. Sem contar com as melancias, melões que colhíamos e colocávamos na água para esfriar. Mais uma vez era um mutirão, uma solidariedade, um cooperativismo natural e ao final usufruíamos de uma convivência social, amorosa, familiar e desfrutávamos daquelas delicias. E no dia seguinte era as comidas, assados, bebidas que só naqueles dias tínhamos, os refrigerantes tinham as tampas perfuradas, não eram tiradas, bebíamos com um prazer que até hoje sinto o cheiro e o sabor, que magnifico, era muito bom.
Os avós, nonos, tios se foram. Aquele carro enlameado representa minha vida com seus percalços, buracos, solavancos, barreiras na estrada da minha existência. Os mutirões é o trabalho em equipe na conquista do meu pão de cada dia, e no convívio da minha infância aprendi uma grande lição, a solidariedade funciona e é necessário o cooperativismo é essencial para viver e o que dizer do convívio familiar, é tudo muito bom e funciona. Há tempo preciso voltar e reviver meu passado, simples, autentico, desligar o piloto automático, colocar o pé no chão e viver. Meu proposito deste ano, vou voltar a ser eu.