Reveion 2018
Mais 365 dias se passaram e 2019 chegou. Como de hábito, estou aqui, neste 1º dia de 2019, para escrever mais um texto longo e chato, mais chato e longo que os de anos anteriores. Aqui eu estou, junto a mais de sete bilhões de ''humanos'', num planeta que denominamos Terra, embora seja composto por mais de 70% de água. Contradição? Só mais uma numa miríade de contradições que nos moldam e nos guiam. Ano Novo, por exemplo, por que chama-se assim, se na maioria das vezes traz consigo coisas velhas? O sonho da felicidade, da paz social, da erradicação da pobreza... A desejada "Liberté, égalité, fraternité"?
O cimento armado tem avançado, erguido castelo dentro e fora de nós e forçado alguns a buscar abrigo em escoderijos de ratos. A ideia é permanecer pacientemente são e deixa-se levar pelo otimismo tão propagado por folhas ressequidas pelo tempo e experiência humana. Não nego que as nego. Tenho tido provas de que a fé não basta para sermos felizes. A missa de que participo não há padres nem pastores, só há condenados. Nada desanimador, porém, que não nos iludimos com promessas vãs. Se só nos resta, como assevera Camus, resignar-se ou revoltar-se, opto por revoltar-se. Os padres e pastores, ou seus represntantes legais, que me perdoem.
Hoje começa um governo que, diferentemente do que preceitua os mandamentos cristãos e a Constituição Federal, será de opressão e desmandos. Foi nesse clima que acordei hoje, pesaroso e sem ressaca, que a cerveja não gelou e o vinho estava amargo. Dados alguns passos dentro de minha oca e avistado a porta, abri. Na rua houve festa. Não sei que comemoraram... Mas enfim, houve festa. Entrei e à memória meio veio Quintana, dois trechos inconclusos de dois de seus belos poemas: "Todos esses que aí estão / Atravancando meu caminho..." e "Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano..."
É reconfortante acreditar em Pasárgada, Canaã, Edén. Saber que não somos tão perversos como pinta a História, que podemos, chegado dezembro, nos redimir de pecados inventariados durante os onze meses precedentes e seguir, de cabeça erguida, rumo ao Paraíso. Como é edificante, não? Embora seja mais fácil chegarmos, a depender da posição social/política que ocupamos, chegarmos a um Baldomero Cavalcante, a filas do SUS, à inanição, ao SPC/SERASA... Enfim, ao mundo de cimento armado.
Eu sei que eu não posso, mais bem que queria ter as Sete Esferas do Dragão... Penso que isso fosse possível, eu criaria reveion o ano todo. Todo dia seria dia de desejar o melhor para o próximo, vestir branco, engordar, aproximar-se de Cristo, ser feliz. Poxa, como essas esferas me fazem falta.