Crônica do ano novo

E a Terra completa mais uma volta em torno do Sol. Começa outra quando elevando uma taça de champanhe desejamos uma volta feliz proferindo a frase: feliz ano novo. Quantas vezes o planeta em que vivemos completou o circuito em torno da estrela que mantém a nossa existência? A ciência estima que já houvesse quatro e meio bilhões de anos novos enquanto a Bíblia em seus relatos desde o Gênesis permite que calculemos seis mil. Na humilde opinião deste que escreve essa crônica, pouco importa saber quem está certa se não me admira o fato de que ambas estejam. O tempo é relativo e muitas teorias de Einstein ainda carecem ser provadas por falta de meios. Se minha mãe tivesse parido trigêmeos e um de meus irmãos fosse enviado logo que nasceu ao planeta Mercúrio e o outro no mesmo instante ao planeta Júpiter ficando eu aqui na Terra, quando completei nesse ano sessenta e três, meu mano mercuriano teria duzentos e sessenta e um enquanto que o jupiteriano, cinco anos de idade devido ao período orbital dos planetas em que hipoteticamente vivem. Suas idades biológicas diferenciariam da minha em mais ou menos quatro meses sendo mais jovem o que vive em Mercúrio e mais velho o que vive um Júpiter devido à velocidade orbital de suas casas aqui supostas. Ora, se em tratando de astros tão próximos, a cronologia estabelece essa diferença e o tempo determina seus efeitos fisiológicos, quem dirá pensar em cem mil anos-luz que é aproximadamente a medida do diâmetro da Via Láctea que é apenas uma galáxia entre outras e outras tantas nesse imenso universo. Concluo, portanto, que ciência e teologia podem caminhar lado a lado, uma explicando aquilo onde a outra esbarra e a fé, dando conta daquilo que nenhuma explica.

É por demais interessante pensar que em cada volta que o nosso pequeno mundo dá, a história registra fatos alguns deles de afetar sobremaneira as voltas futuras. Na primeira da era cristã, o nascimento de um homem foi de tamanha importância e trouxe tanta luz ao mundo em suas palavras e atos, que marcou a contagem do tempo como Anno Domini que em latim significa “ano do Senhor”. Iniciou-se a partir de então a era cronológica globalmente adotada mesmo em países de cultura majoritariamente não cristã. Para efeito de unanimidade de critérios em vários âmbitos, passou-se a contar o tempo no ano do nascimento de Cristo, como ano um.

Na volta de número 1453, um evento determinou para alguns historiadores o fim da Idade Média na Europa. Os turcos otomanos tomaram Constantinopla estabelecendo a destruição final do Império Romano no Oriente que agonizava durante o reinado de Constantino XI, morto naquele ano, se bem que consolidou o outro, seu vencedor.

Sete órbitas depois da conquista da capital bizantina pelo Império Otomano sob o comando do sultão Maomé II já na Idade Moderna, mais precisamente no dia 9 de março de 1500, a esquadra de Pedro Álvares Cabral partiu de Portugal, chegando ao Brasil quarenta e quatro dias depois no sul da Bahia. Provavelmente, no ano novo seguinte, D. Manuel o Venturoso mais o povo português embora sem fogos de artifício, esfregavam as mãos diante do novo continente a explorar.

Mas, não só as conquistas, descobertas, derrocadas e edificação de impérios ocorrem durante a plenitude dos anos. Seres iluminados aportando aqui, uns em lugares e momentos propícios, outros não, trouxeram o brilho de suas mentes perspicazes, às vezes tendo que lançar mão de muita coragem para afirmar seus pensamentos, pois o excremento detesta ser contradito no que ameaça o conforto de suas premissas. A história de Giordano Bruno é prova inconteste dessa verdade. Copérnico, em sua teoria do modelo heliocêntrico mostrou justamente quem circunda quem nos afazeres de que se ocupam os astros nos movimentos que resultam dias e noites, desdizendo que a Terra é o centro do universo. Também, a Revolução Francesa foi um importante evento na história moderna da nossa civilização, ocorrido num ponto do contínuo circuito. Significou o fim do sistema absolutista e dos privilégios da nobreza. O povo ganhou mais autonomia e seus direitos sociais passaram a ser respeitados. Marcou o inicio da Idade Contemporânea que se estende até os dias de hoje à espera de um acontecimento significativo bastante para estabelecer novo marco e uma nova era. Quiçá da fraternidade universal.