Crônica
Crônica.
O menosprezo ou desprezo ou mesmo o preconceito (que são a mesma coisa) contra a mulher, é mais velho que a idade da pedra, principalmente se a mulher não era virtuosa (bonita) aos olhos dos homens.
Há muitos anos, nos tempos da galinha "dentada", haviam dois irmãos na idade de casar e certo dia arrazoavam sobre o assunto.
Um deles disse que ia se casar com a mulher mais feia que encontrasse para não ser traído (chifrado). O outro disse que ia casar com a mulher mais bonita que encontrasse que se tivesse de ser traído seria de uma mulher bonita.
Cada um casou-se conforme o gosto. O da mulher feia fez uma casa no centro da mata onde não se via ninguém, além das raposas, guartinins, catitu e porco espim, vez por outra algum vaqueiro que campeava pela redondeza "barroava" na casa deles. Fora isso ninguém sabia onde moravam.
O da mulher bonita fez uma casa na beira da estrada da localidade por onde passava todo tipo de gente desde os conhecidos aos desconhecidos.
O da mulher bonita era galego. No meu tempo de menino chamavam de vendedor ambulante, mas na época da história era mesmo caixeiro viajante.
Certo dia o marido da bonita viajou e esse tipo de ocupação obriga o ambulante passar vários dias fora de casa. No dia que ele saiu, chegou, após sua saída, outro caixeiro viajante que andava negociando e já era tardinha. Pediu abrigo pra quela noite, pois as casas daquela época eram légua e meia duma pra outra e o perigo noturno era eminente. A mulher resistiu e não quis abrigar o estranho, mas conhecendo as dificuldades da profissão e os perigos da mesma na pessoa do marido, aceitou dar abrigo ao estranho.
Cedo da noite o caixeiro estranho passou a assediar a mulher, pois era muito bonita e não se conteve de tanta ansiedade para possuí-la. Ela resistiu, apesar da oferta financeira que ele lhe fazia e cada vez que ela resistia ele aumentava a oferta de maneira que num dado momento,era tanto dinheiro que ela caiu. Não que quisesse tal coisa, mas para se apossar da grana considerando o valor.
Bem. Serviço prestado e devidamente pago.
Na manhã seguinte o caixeiro se despede e satisfeito vai embora.
Por volta das 17h chega o marido. Entra em casa com a cara mais triste que se possa imaginar. Nem falou direito com a mulher. Ela, da mesma forma, desolada, pois cometera uma insanidade contra si mesma. Com a cara de tristeza e de desanimo do marido, até suspeitou ela que ele soubesse de alguma coisa, mas ela criou coragem e confessou o crime.
Naquele tempo esse tipo de coisa era separação certa e até morte. Pelo menos uma surra de varas deveria levar. Então expôs ao marido a história que não convém repetir para não cansar meu leitor que já deve está aborrecido com isso. Porém, quando o homem ouviu falar na fortuna adquirida com a traição e quando viu a grana num baú cheim de moedas de ouro, abriu um sorriso da largura dos braços, junto ao sorriso abriu os braços e abraçou sua traidora com tanta alegria, amor, emoção de felicidade e depois de tanto beijá-la disse: Querida, esta é a quantia que perdi em um negócio hoje e estávamos falidos condenados a mendigar a partir de amanhã. Você salvou nossa vida financeira.
Bem, não quero entrar no mérito desse comportamento, até porque cada caso é um caso.
Falemos do da mulher feia.
Depois de uns dias os irmãos se encontraram e ele relatou ao outro que havia sido traído. Ao que gritou imediatamente: -Num te disse que ia ser corno? Taí. Foi casar com mulher bonita!
-Mas, tu num sabe por quanto ela me traiu! Disse o outro. Quando revelou a quantia o irmão não acreditou, mas ficou calado e ambos caminharam em direção à casa do da mulher feia.
Ao chegar, a primeira coisa que o marido relatou a mulher foi a traição da cunhada em troca daquele valor enorme de moedas.
-Tu acredita, mulher!?
-Nunca! Nem pensar numa história dessas. Ora. toda vida te traí com os vaqueiros e nunca ganhei nem uma peínha de fumo pra fazer um baseado!
Bem. Julgue os dois casos. Dizem que a ocasião cria o ladrão e aprendi com a palavra de Deus que não se deve julgar pela aparência pois Deus vê o coração. Por isso mesmo São Pedro adverte que a beleza a ser cultivada e priorizada deve ser a interior. (paráfrase de I Pedro 3:3-5)
Ou seja: feia ou bonita, feio ou bonito se não o forem bonitos por dentro não terão nenhuma beleza. Professor Carlos Jaime