CAUSO SOBRE UMA PESCARIA......................Em Sítio do Mato
Era uma linda sexta feira, dia 15 do mês de julho de 1994, na pequenina cidade de Porto Feliz, mas conhecida sempre como Sítio do Mato, lugarejo que antes da sua emancipação pertencia à cidade de bom de Bom Jesus da Lapa.
Situada à beira do Velho Chico, logo abaixo da boca do Rio Corrente, Sítio do Mato no passado foi cenário de uma missão evangélica dos Estados Unidos, ligada à Igreja Presbiteriana e que muito contribuiu para a existência do lugarejo. A primeira escola e a primeira clínica médica foram construídas pela missão Presbiteriana americana.
“ A cidade está situada às margens do Rio São Francisco numa reserva florestal, onde pessoas fizeram ocupações construindo um sítio que foi batizada com o nome de: "Sítio do Mato". Quando se tornou distrito, oficializaram com o nome de Porto Feliz, porém tal nome não pôde permanecer por conta de já existir outro município com tal título.
Foi emancipado em 24 de fevereiro de 1989, através da Lei Estadual número 4834. Em 2011, a Universidade Federal da Bahia através de uma pesquisa encontrou pinturas e fragmentos cerâmicos no município.“
Deixando de lado as questões históricas, vamos ao que nos é mais interessante: A grande pescaria de Tutes, Silvinho e convidados, em uma linda sexta feira, dia 15 do mês de julho de 1994, ano da copa do mundo nos Estados Unidos da América, na pequenina cidade de Sítio do Mato.
O dia amanheceu placidamente tendo como trilha sonora o canto dos galos, o canto das diversas aves da região e o barulho polifônico das águas do velho Chico, coloridas pelas aguas do Rio Corrente lançando as águas escuras com ímpetos mas quando acordei os pescadores já tinham partido para a lida bem de madrugada.
Tudo havia começado no dia 14 de julho, uma quinta feira, um dia após a seleção Brasileira ter vencido a seleção da Suécia na semifinal, com um gol do baixinho Romário, quando Tonho de Palú convidou-me a ir com ele até Sítio do Mato e de pronto aceitei, pois iria matar saudades de algumas pessoas que eu não via há mais de uma década.
Normalmente as minhas idas a Sítio de Mato eram via Rio São Francisco viajando nas chalanas mas desta vez fui de carro passando pela recém- construída estrada de Bom Jesus da Lapa a Sítio do Mato, e pela primeira vez pude vislumbrar o poético Rio Corrente através da ponte que liga a estrada de Bom Jesus da Lapa com a de Santana dos Brejos sentido Sítio do Mato, antes da sua investida para o Velho Chico.
Chegando a Sítio do Mato, reencontrei muita gente amiga, como Saulo, Magnólia, Silvia que estava passando férias com Izabel Cristina e Patricia, Silvinho, Abelzinho, Nelsinho, Seu Abel, Dona Diva, Zulmira esposa de Silvinho, a sogra de Silvinho, conheci as filhas de Saulo, a filha de Nelsinho, o filho de Silvinho e o seu enteado, uns amigos novos de Silvinho, a esposa de Bé, Lais sua linda filha, e o caçula Ramon, que já estava começando a dar os primeiros passos.
No início da tarde fomos para a casa de Silvinho comer peixe frito e beber cerveja. Papo vem, papo vai, eu já com umas gotas etílicas no cérebro, sem camisa, sem tênis, só vestido com a calça jeans, sentindo uma puta vontade de urinar, levantei-me abruptamente da cadeira, saí da casa indo esvaziar a bexiga na beira do Velho Chico.
Lembro-me bem que cruzei todas as moitas que estavam no meu caminho, ou melhor, eu não segui pelo caminho natural da casa até o velho Chico, e sim pelos atalhos.
Ao chegar à beira do barranco, deparei-me com aquele mundão de água barrenta cor de chumbo, correndo silenciosamente, parecendo alheio a tudo. Fique paralisando diante da imensidão de tanta beleza e mistério! Girei o pescoço para o outro lado das margens correndo os olhos para o lado de Bom Jesus da Lapa e vislumbrando o morro; acompanhei a curva para a esquerda e depois para a direita. Até me esqueci- do que fui realmente fazer ali.
Quando voltei para o rio ali na minha frente, com as águas escuras correndo placidamente, lembrei-me do pantanal e das sucuris e rapidamente me afastei da beira e fui logo mijar bem próximo ao barranco. Quando terminei o meu ato urinário percebi uma sombra de uma pessoa, que vinha do barranco: Era Silvinho que me acompanhou logo que sai da casa, com o único intuito de proteger-me de alguma eventualidade.
Segundo ele, eu havia pisado em todas as moitas de espinhos três pontas e nenhum entrou no meu pé descalço. Foram risadas para todo o restante daquela tarde. Imaginem vocês, que a casa, antiga construção americana, com mais de três banheiros dentro e eu fui mijar no rio São Francisco! Coisa de bêbado.
Tutes e Silvinho não me deixaram ir para a pescaria, porque, segundo eles, eu nunca fui pescador e eles tinham razão. Dona Diva também me aconselhou a não ir.
Conformado, passei o dia com diversas atividades, como conversar com Sílvia lavando roupa na beira do rio, ou sentado na varanda olhando o Velho Chico e os pescadores solitários passando remando em seus barcos, ou incomodado com um bando de galinhas e frangos perseguindo uma franga que corria com vísceras de galinhas no bico.
O mais engraçado era Saulo, que ficava acompanhando o movimento das sombras das árvores para ficar colocando o carro. Bastava a sombra sair de um lado da árvore, lá estava ele tirando o carro do sol e o colocando na sombra, e eu andando de bicicleta para ir até a cidade na expectativa da chegada dos pescadores. Eu e muita gente da amizade de Silvinho.
Finalmente ao cair da tardezinha ouvimos o barulho do motor do barco chegando ao cais da cidade. Os pescadores aportaram e desceram sob os nossos olhares curiosos para ver os tais peixes tão prometidos na tarde e noite anteriores. Alguns dos espectadores até examinavam os peixes na boca para ver se tinha de fato marcas de anzóis para saberem de fato se foram pescados ou comprados.
Conversa vai e conversa vem Silvinho e Tutes entraram no barco para descer para a casa de Seu Abel, que ficava fora da cidade, rio abaixo, mas algo estranho começava a acontecer: O motor não dava partida. Mexem daqui, mexem dali e nada! Sopram mangueira e nada!
- Mas estava funcionando agora há pouco! O motor é novo e comprado em Brasília! Será que vou ter que mandar para lá para concertar? Falou Tutes, o dono do motor portátil.
Depois de muitas tentativas, e nada de motor ter a sua ignição iniciada, alguém resolveu fazer uma caipirinha, pegou o galão de pinga e subiu para o bar que está localizado no alto do barranco do cais bem , próximo da igreja católica.
De repente o voluntário que havia para a feitura da caipirinha retornou dando fortes gargalhadas que ecoaram cais abaixo.
- Este galão é de gasolina e não de cachaça! Falou gozadamente o voluntário.
Foi aí que todos perceberam que o galão que fora conectado ao motor era o de cachaça e não o de gasolina, por isso o motor não funcionava! A caipirinha foi feita, bebemos os goles entre muitas gozações e conversas e logo depois, já com a noite caindo, o motor finalmente funcionou, Tutes e Silvinho embarcaram e desceram rio abaixo, enquanto os seguimos por terra para encontrar com eles na beira do rio.
Saulo ligou os faróis do carro para iluminar a beira do rio, enquanto eu tentava ajudar a carregar as coisas. Tutes não me deixou ajudar a carregar o motor. Ele dizia que tinha que carregar com jeito e com cuidado, pois qualquer batida poderia causar avarias e só poderia ser concertado em Barreiras ou em Brasília.
Eu nunca me esqueci daquela tarde deliciosa, onde a expectativa pelo produto da pescaria acabou sendo superada pelo fato do motor ter sido acoplado ao galão de pinga e não de gasolina.( os motores portáteis são equipados com galões portáteis de combustível. É muito mais prático)
Acredito eu que naquela época, os motores de barcos ainda não eram Flex, mas Silvinho e Tutes já estavam uma década à frente. O único senão, era que a cachaça tinha que ser substituída pelo etanol, quem sabe o motor teria funcionado.
Causos de pescadores!