A rua
tubro na cidade de Itararé interior de S. Paulo é a que mais marcou em minha vida. Por esses dia tive a oportunidade de caminhar por ela. Foi um momento impar na minha vida. Aproveitei curtir os momentos que a oportunidade me patrocinava na minha jornada nessa vida. Isso porque nos meu cinquenta e 63 anos de existência especificamente essa marcou a minha historia.A Rua
Uma via de acesso que marca o espaço urbano de uma cidade. Rua tem nome... rua tem alma, porque ela conta histórias das pessoas da cidade homenageiam seus cidadãos ilustres, e as datas históricas que marcaram eventos.
Os nomes das ruas são homenagens aqueles que de alguma forma contribuíram para o bem estar da cidade do país. A rua marca a história, a saga de uma família, apesar do espaço ser o mesmo, o cenário arquitetônico transmuta-se em outras paisagens no decorrer do tempo.
Cada pessoa tem uma história familiar na rua onde moraram. Entre muitas ruas que marcaram a minha vida rua 24 de ou
Essa rua, particularmente me traz recordações de um tempo que não volta mais, mas que ajudou a consolidar minha personalidade, pelos eventos marcantes da minha vida que ali ocorreram. Eu lembro-me de quando chegávamos do interior do norte do Paraná, depois de uma extensa viagem de Jeep com minha família.
Itararé, quase divisa com o Paraná no interior de S. Paulo e minha cidade Natal. Era para mim a cidade grande; o moderno ali estava. O cinema da avenida S. Pedro, o Padaria do Marcondes da rua XV de novembro.
Meu pai viajava com toda a família de Jeep por longas 10 horas de viagem pelas estradas poeirentas, que naquele tempo não tinha asfalto. A alegria de rever meus avós e meus tios e primos eram tanta que mal dormia naquela primeira noite de chegada. No dia seguinte levantava-me bem de manhã para saborear um gostoso café com manteiga. O cheiro do café torrado do pão feito em casa invadia as dependências da casa de minha avó.
Logo após o café eu ia para o jardim que minha avó cuidava com tanto carinho. O cheiro da tinta nas latas, o cal na bacia de barro, cheiro das flores essa cena e os odores que dela provinham me situava no lugar. A casa dos meus avós. Meu avo era pintor de paredes e ao lado jardim ficava o depósito de latas de tinta , o pincéis que ele guardava para pintar as casas. Sentava-me no Hall de entrada da casa e ficava contemplando o céu.
Após o café da manhã eu ia para o Hall da entrada do casarão e naquelas manhãs iluminada, ficava absorto no cenário, um céu sem nuvens. Ficava ali com meus braços entre os joelhos com as mãos sobre o queixo, contemplando os transeuntes e observando. A paisagem, enquanto aguardava meus primos para brincarmos de bicicleta, pega-pega esconde- esconde.
O ritual da vaca amarela na hora do almoço, as brincadeiras no fim da tarde, a correria na praça à noite com todos os meus primos que era mais de 13, faziam a festa das minhas férias, tudo acontecia ali... Na Rua 24 de outubro. Por esses dias após muitos anos, tive a oportunidade de viajar para minha cidade natal e depois de 40 anos passei em frente da casa de minha avó.
Ela não existe mais... No lugar do casarão uma linda residência de alvenaria com portões eletrônicos, de acesso controlado. Mas o fato de estar ali naquele local, foi como se retroagisse no tempo.
Assentei-me no meio fio, onde ficava o hall de entrada do casarão. Pousei meus cotovelos nos joelhos e coloquei as mãos no queixo, minha postura preferida no dia seguinte após a minha chegada na casa de meus avôs. Por um instante fechei os meus olhos. Confesso que foram momentos devocionais, onde a imagem. das cenas passadas me vinham a lembrança. Os meus pais e meu avos e a maioria dos meus tios já não se encontram mais em nosso meio. Apenas a memória daqueles tempos memoráveis, me trouxeram lindas recordações.
Nesse universo macro de múltiplas cidades e avenidas iluminadas existem ruas belíssimas nos grandes centros, mas especificamente essa que cito não se refere à beleza estética do espaço geográfico. Mas por mais paradoxal que seja, lá está o cenário mais belo. Estou falando de um pequeno espaço de dois quarteirões de uma ruazinha de uma cidadezinha do interior de S. Paulo, onde o que menos havia era beleza do contexto geográfico. Mais uma vez, lá estava eu na minha rua preferida, Rua 24 de outubro, assentado quase no mesmo local. Percebi que no espaço entre dois Paralelepípedos, uma flor minúscula, sobressaia entre as saliências das pedras. Era como se eu recebesse uma mensagem da continência da vida. Estava na rua mais linda da minha história. .
Estou falando da beleza dos momentos que ali passei. A rua da casa de minha avó materna me fez lembrar um tempo que desapareceu nos grandes centros. Um centro de convivência familiar onde havia sentido ser família. É a minha história, o inicio da formação de minha personalidade. A rua está lá num espaço geográfico onde minha história aconteceu. Momentos lindos que marcaram minha infância e o inicio de minha adolescência. Sentado na esquina que antes ficava situado a casa dos meus avôs me emocionei ao contemplar as pedras de paralelepípedos quase que eternas naquele chão.
Essa pedras são como couraças da rua. Pensei na primeira vez que pisei nela, novamente estava ali na minha rua preferida. Percebi nos pequenos espaços que separavam as pedras uma das outras, uma tenra e minúscula flor vermelha que se sobressaia entre a graminha verde, que teimosa insistia a estar ali apesar dos pneus dos velozes veículos de nosso tempo. A rua do picolé colorido, das pipas, da bolinha de gude, do triciclo. A Rua do Biju, do jornaleiro, a rua do leite e do pão fresquinho que o padeiro deixava na porta pela manhã. É impossível não se quebrantar diante de um céu iluminado diante de um cenário onde as cenas da minha infância se desenrolaram.
Eu ali... Sentado, cinquenta e três anos anos mais tarde... E olhando aquela florzinha, é como se a rua me dissesse “a vida continua...” Outras pessoas construíram a sua história e outras estão a construir na mesma rua, no mesmo espaço que foi palco de uma vida de uma numerosa família.
Refleti nessas coisas sutis que a vida cria, e haveis de compreender então a razão por que os humildes limitam todo o seu mundo à rua onde moram, e por que certos tipos, os populares, só o são realmente em determinados quarteirões. Sem duvida o dia 30 de novembro de 2008 foi um dos dias mais felizes de minha vida. Foi um presente do acaso premeditado, pois fui parar na minha rua preferida para matar as saudades. Quantas coisas aconteceram ali. Vi os transeuntes, percebi dois garotos na calçada. A rua reiniciando a história na vida de outras pessoas.
Parafraseando aqueles versinhos
Se essa rua se essa rua fosse minha
Eu mandava eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas com pedrinhas de brilhantes
Para o meu coração alegre sempre estar.
Agradeci a Deus, pela vida dos meus avôs dos meus pais. Levantei-me e continuei minha caminhada . A vida continua... A rua continua... Na sua missão sagrada, testemunhando e capturando as almas das pessoas que por ali viverem.