Ledo Ivo vive

Quatro de agosto de 2012. Retornava com Ledo Ivo da festa literária de Marechal Deodoro para Maceió. Ele todo prosa como nunca tinha visto antes. Entre uma pausa e outra na conversa, ele disse:

- A gostosa conversa depois do jantar.

Eu falei:

- Neste mesmo lugar, no ano passado, Ignácio de Loyola disse algo parecido.

- E o que ele disse? - quis saber o poeta.

- O melhor da festa é a conversa na volta ao hotel.

Antes de chegarmos no viaduto do Francês a Lua surgiu resplandecente num céu límpido e estrelado. Puxei conversa:

- Esta Lua me lembrou um poema famoso seu, Ledo.

- Qual?

- Um que diz assim:

"Lá vem a Lua saindo

redonda feito um tamanco;

meu amor se não me amas

Por que mataste meu jegue?"

Ele caiu na gargalhada e me perguntou:

- E eu escrevi isso?

- Não. É só gozação.

Então, do Francês até o hotel em Maceió ele foi contando piada. E ainda me alugou por mais duas horas no saguão do hotel. Pediu-me para ir com ele, em janeiro, até Piranhas, uma cidade histórica de Alagoas, conhecida mais pelos últimos dias de Lampião e do seu bando. Eu lhe disse sim. E foi a última vez que nos falamos. No dia 24 desse mesmo mês ele se foi. E hoje, passando pelo viaduto do Francês eu me lembrei desse dia que o poeta brincava de ser gente normal, como se quisesse partir deste mundo vestido na desimportância das pessoas simples.