A TÃO SONHADA ESPERANÇA
Crônica de:
Flávio Cavalcante
Crônica de:
Flávio Cavalcante
E mais um natal se foi e sempre com uma esperança de um novo ano melhor. Assim se passaram os anos da minha jornada nessa vida e de repente olhamos para trás e parece que tudo passou diante dos nossos olhos num passe mágica, numa velocidade supersônica. E onde está a tal esperança do porvir?
Muitas vezes me pego mergulhado profundamente revirando todo o baú da minha memória e vejo apenas uma longa história que se repete a cada dia e no final tudo volta à estaca zero, como se o filme voltasse novamente ao seu começo.
Que esperança é essa que buscamos tanto no ano vindouro? Olho para trás e o que vejo é apenas um passado cheio reflexões. Fico estupefato. Parece que acordei para uma realidade que eu nem sei se é uma realidade este meu acordar. Uma coisa é fato. Os anos vão passando, a história se repetindo a cada ano e parece que a vida deixa claro que a esperança que tanto buscamos está perdendo seu prazo de validade. Estou fica mais velho, e noto perfeitamente, assim que me deparo diante de um espelho. Mas parece que foi ontem que eu estava correndo pelo pátio da escola de jardim da minha infância, onde a minha maior preocupação era chegar em casa e receber o aconchego da mamãe e do papai. Sentar à mesa e saborear aquela comidinha bem temperada já posta à mesa; depois de um árduo dia de muitas perdas de energia no pátio daquele escola. Nem sonhava que toda aquela mesa posta, tinha todo um suor derramado com muito sacrifício dos meus pais para não deixar faltar sequer a alimentação básica do dia a dia.
Hoje tudo isto passou juntamente com mais um natal. Será que acordei de um sonho ou de um pesadelo? Foi imperceptível essa passagem tão repentina. Estou exatamente com cinco décadas de idade. A esperança de dias melhores até agora não deu o seu ar da graça. Estou no pico da montanha, no ponto mais alto da roda gigante chamada vida. Sinto que não há como retroagir e a partir deste momento a descida tem que ser gradativa e com muito cuidado para não derrapar e despencar desse precipício bem diante dos meus olhos.
Daqui, sinto-me como uma ave de rapina enxergando horizontes bem distantes e vejo que apesar dessa incansável busca pela tão sonhada esperança, está além; muito além, de onde as minhas vistas possam alcançar.
A roda gigante começa a girar e o calafrio tomou conta do meu ser. O medo do porvir me deixa cada vez mais atônito. Vejo mais um natal se aproximando e dessa vez não tenho mais aquele sabor de outrora. Na subida da longa estrada eu tinha tutores com anfitriões que comandavam minha própria vida. Agora que estou no ápice da montanha gélida, não vejo nada ao meu redor que não seja eu mesmo. Os papeis parece que se inverteram. Eu sou o tutor de mim mesmo e anfitrião da minha própria vida.
Desço devagar. O fardo nos ombros está cada vez mais pesado. Minhas forças já estão se esgotando e mais um ano se findando sem sequer ver sinal da tal sonhada esperança. O chão se aproxima cada vez mais; já não consigo enxergar como em outrora enxergava. Mais um Natal se passou e agora passo a ter a certeza que o meu ciclo aqui está se findando. Estou quase no ponto de origem de onde vim, exatamente onde tudo começou. Descobri que toda minha trajetória subindo a ladeira da vida foi angariando experiência, plantando toda uma semente chamada esperança de um dia melhor, me preparando para retorno do ciclo no mesmo túnel que um dia cheguei.
FELIZ ANO NOVO 2019 PARA TODOS
Flávio Cavalcante