Convite ao tempo do Ano Novo
A festa do Ano Novo só, confortavelmente, presta, se for igual ou semelhante às festas já realizadas como comemoração das entradas dos anos que já se foram, hoje, tidos como velhos. O ano é chamado de “novo”, mas sua festa não pode ser tão nova como a roupa feita para seu festejo. Assim, quebrar-se-ia a tradição, desfar-se-ia o costume, sumindo assim o prazer da comemoração, como só prestasse, se a atual lembrasse a velha festa, com retalhos das antigas. O homem divide o tempo para contá-lo, tornando sua inteireza em partes.
A festa da passagem de ano tem memória, acumula os bons momentos das passadas, serve para lembrar como se iniciaram os anos idos; como se alegraram os entes que já se foram ao cantarem “adeus ano velho”. E hoje, foram-se eles com o tempo... Com canto ou sem canto, lembrando os anos velhos que se alongam, então surge o Ano Novo, que se valorizará à medida em que for o somatório dos tempos passados; como cada ano servisse como fundamento do tempo para não ruir ou que sempre será um continuum que não vai parar. Enfim, se não houvesse anos velhos, que graça teria o Ano Novo? E também, nós não paramos porque os anos fogem rápidos...
O ano, que se consagra vindouro, assim virá, se for proveniente dos anos passados. No Ano Novo, não poderá acontecer alguma “ausência do tempo”, como se intitulam meus versos que, há muito, assim me seguem: Traze-me o passado de volta, / O tempo não se revolta, / Ao saber ser um só tempo. / O passado também é presente, / Enquanto viver por inteiro, / Um passado não derradeiro, / Sem subestimar o será, / Nem desmerecer o que é ... Que não se despreze o passado, pois, na mudança das estações, não se comemora uma “nova” primavera, mas se festeja a beleza das flores.