Assim ou ... nem tanto. 163
O Fim
Nunca antes tive tempo nem olhos para ver o caminho. Tinha sempre pressa para te ver e quando estávamos juntos que importância teriam os outros ou as coisas do resto do mundo? Depois…como tudo nesta vida, acabou. Desencantámo-nos, deixamos que um frio fosse entrando no corpo e ambos erguemos muros de silêncio. Escondíamos neles a angústia e o irreversível mas fazíamos a rotina parecer a quem nos via que estava tudo bem. Só nós sabíamos que alguma coisa morrera e apodrecia dentro de nós. Foste tu a primeira a dizer que era um erro continuar e, de imediato, confirmei que doía estarmos longe ao lado um do outro. Ainda tentámos viver na mesma casa mas o muro já antes a dividira. Ficavas no quarto e evitavas a sala e eu nunca mais fui à cozinha ou fiquei na varanda a olhar sem ver a minha esperança. Hoje meti alguma roupa na mochila, afaguei o gato, escrevi duas palavras num guardanapo de papel, juntei-lhe as minhas chaves e saí. Saio eu, disse. Sinto que falhámos os dois mas eu quero tudo novo: casa, emprego, carro. Presumo que verás, sem mim, um espaço mais teu, mais acolhedor, mais capaz de preencher o tempo que deixámos esvaziar não nos amando. Ainda não sei para onde vou mas darei notícias para as contas, os acertos, para a partilha final do que haja a dividir. Na verdade não quero nada mas tu ainda não sabes disso e já fazes dois lotes: o teu e o que definitivamente não queres, não gostas ou não te serve. Decidi que ficas tu com tudo. Não conseguiria libertar-me tendo coisas do passado e tu não conseguirias futuro sem elas.