A HISTÓRIA DOS MEUS AVÓS

Eu era criança e adorava quando minha mãe, dona Dilza, me levava para a casa dos meus avós, no Caçote, em Areias, aqui no Recife. Era uma farra boa, eu me divertia bastante com meus primos e tios. Junto da casa de meus avós, Manoel Paulo e Maria Martiniana, morava o meu tio Vavá, casado com Dina, que tinham filhos, o Dindinho, a Eva, só não lembro se mais primos já tinham nascido. Lembro mais do Dindinho e da Eva, a prima linda que eu admirava e era conhecida como Evinha, ela com seus 10 anos mais ou menos e eu com 8.

Me identifiquei muito com meus tios Nito e Neco, ainda solteiros, brincalhões. Brincávamos de venda, em caixas no quintal arrumávamos as "mercadorias", ou seja, plantinhas como se fossem coentro, tijolo ralado como se fosse colorau e outras coisas mais. Neco tinha a mania de virar as pálpebras e ficava uma coisa horrível.

Eu morava no Pina, num beco onde existiam vários quartos de aluguel e tio Zezinho e Adélia moravam em um deles, vizinho ao que eu morava com meus pais e irmãos. Era uma alegria imensa, Fátima era pequena e seu irmão não lembro se era nascido.

Meu avô trabalhava como ferreiro, tendo nessa profissão perdido uma vista quando uma centelha lhe atingiu. Sempre me vem a lembrança a notícia de que ele fora atropelado e quando fomos visitá-lo me deparei com ele todo enfaixado na cama e minha avó dando comida na boca dele.

O tempo passou e certo dia meus avós resolveram que deixariam a cidade em busca de uma vida melhor. Juntaram toda a família, inclusive os tios Vavá e Zezinho, pegaram alguns pertences e embarcaram em um navio rumo ao Rio de Janeiro, uma aventura que durou alguns dias em alto mar. A gente soube depois que durante a viagem tio Zezinho levou um banho de óleo não sei como, sujando toda a roupa, sendo esse o único problema. Desembarcaram no Rio e saíram à procura de uma casa para alugar, o que com certeza conseguiram. No início devem ter enfrentado muitas dificuldades, mas com o passar do tempo conseguiram se estabilizar e cada um deu início a uma nova acomodação nesse lugar desconhecido. Meus tios conseguiram emprego, arranjaram namoradas, casaram e passaram a ter um certo conforto. Nós aqui no Recife tínhamos sempre notícias, pois mamãe escrevia sempre para minha avó e vez ou outra meu pai João José enviava dinheiro dentro das cartas, uma coisa que não era recomendada pelo correio.

Hoje, vendo essa família aumentada e um grande número de parentes que não conheço pessoalmente, sinto uma satisfação imensa em saber que de uma aventura não programada a prole dos meus avós deve sentir-se agradecida. Ainda solteiro cheguei a visitar meus parentes do Rio de Janeiro por três vezes, mas isso já faz mais de quarenta anos e se Deus quiser um dia vou fazer essa viagem que tanto desejo para poder abraçar aqueles que me são caros. Alguns eu vi crianças, outros nem conheço, mas está bem próximo o dia do grande abraço. Que Deus tenha meus avós em bom lugar. Esta é minha homenagem a eles.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 26/12/2018
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