Uma ode aos solitários

Uma ode aos solitários

Ao longe, o murmúrio do mar me acaricia os ouvidos, já mal acostumados com as ternas vozes dos animais noturnos que teimam em me retirar desse ostracismo voluntário.

Por força do hábito, acordo no meio da noite e saio para contemplar o céu, que me abrira a noite polvilhado de estrelas enormes e agora está marcados por nuvens ansiosas por despejar sua carga de águas sobre a terra.

Ouço a mensagem de um amigo me chamando para participar das festas natalinas ao lado de sua familia, leio a fala de um meu professor de Psicologia (um dos poucos merecedor do meu respeito e admiração) sobre a importância de pai e mãe, e, incontinente, munido de meu ácido senso de humor, construo uma ponte para ligar esses dois eventos que pouca ou nenhuma importância tem para mim.

O primeiro, o tão festejado Natal cristão, não me deixa mais do uma grande nostalgia do menino que fui, a colocar o sapato na janela e descobrir decepcionado, que não havia nele presente no dia seguinte.

O segundo evento me lembra, como aquelas lembranças deixadas por um espinho cravado na carne, que tanto o meu pai quanto a minha mãe foram dois grandes ausentes na construção de minha vida, pouco fazendo alem do ato procriatório, e delegando a ocupação desse vazio para os meus avós maternos, cada um o preenchendo ao seu modo: o avô com rusticidade e selvageria, e a minha avó com todo o carinho e compreensão de que foi capaz.

Voltando aos bichos noturnos e ao mar sedutor, (esses companheiros eventuais desse desassossego noctivago de agora) confesso que gosto da solidão, desse estar só que me faz perceber a riqueza do mundo em que vivo, que me deixa preso a ouvir a poesia que o mar e a mata me recitam em afinado dueto.

Que grande Natal a vida me deu de presente!

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 24/12/2018
Código do texto: T6534560
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