Feliz Natal, minha avó.

Agora há pouco, minha mãe terminara de montar a árvore de Natal: sentada no chão, com muito cuidado, ela enfeitara a árvore após alguns anos sem decorar a nossa casa. Eu, que sempre amara essa época do ano, aprendera a conviver com uma casa sem enfeites. Com o passar do tempo, sonhava com o ano em que, juntas, montaríamos a árvore e o Natal seria um dia feliz para nós. De repente, sem que eu esperasse, o dia tão esperado chegara e a árvore estava pronta, robusta, na sala de minha casa. Eu havia desenhado aquele momento centenas de vezes em meu coração e não conseguia imaginar a alegria que sentiria quando, finalmente, voltássemos a comemorar a data que, um dia, nos fora tão importante. Fitei a árvore em busca da felicidade que tanto esperava enquanto via minha mãe colocar o último enfeite: uma estrela, no topo da árvore que fora montada com tanto esmero.

Encarei-a e, súbito, a alegria transfigurou-se em saudade e me lembrei, minha avó, que a senhora não estaria aqui. Vi a mesa de jantar vazia e me recordei que, amanhã, não a iria receber para a ceia. Não havia, embaixo da árvore, um presente para a senhora e a magia daquele momento esvanecia-se no ar. Desejei, imensamente, apenas por um segundo, poder te abraçar. Desejei vê-la pela última vez e quis contar-lhe tudo que ocorrera nesse último ano. Pedi a Deus para que a senhora estivesse me esperando, na beira da escada, quando eu descesse para cumprimentar os demais convidados, com seus brincos enormes e seu perfume Lulu. Imaginei-me criança em seus braços e a vi com uma sacola de roupas, escolhidas com muito carinho, para me presentear no Natal. Provaríamos, juntas, todas elas mas, claro, você também traria um novo jogo de videogame para que jogássemos no dia seguinte. Eu estaria, é certo, com uma das roupas que você escolhera e conversaríamos sobre tudo: todo resto seria apenas o plano de fundo para o nosso encontro.

Estaríamos nós e a mamãe, em um canto da sala e ela estaria inteiramente feliz. O Jadir, é claro, já teria ido embora e não nos faria nenhuma falta. A verdade, minha avó, é que ele nunca lhes fizera falta. Você estaria sentada junto de meu avô Elvezio e meu primo estaria jogando videogame: ali, a minha infância estaria completa. Após a ceia eu pediria a meus pais para dormir na sua casa e, apesar da insistência, eles não deixaram afinal, era noite de Natal. Desejei dormir, ao menos uma noite, em sua casa. Conversaríamos sobre como você não gosta do tal especial do Roberto Carlos e assistiríamos, juntas, à novela enquanto a sissi dormia no pé da cama. Dormiria em seus braços e, pela manhã, a encontraria fazendo café enquanto fumava um cigarro, à minha espera.

Estaríamos em 2006 e eu, pequena, seria a criança mais amada do mundo. Seria, até mesmo, um pouco mimada mas, a cada dia, me pareceria mais com a senhora. Meu coração, entretanto, desejou que, em 2018, essa criança ainda existisse. Por um segundo, tive a certeza de que, amanhã, a senhora estará aqui.

A árvore estava pronta e, de repente, ela não era apenas uma árvore. Aquela estrela, minha avó, era você. Pedi a Deus para que, amanhã, a senhora nos visitasse, de longe, e lhe desejei um feliz Natal. Pedi aos anjos para que lhe contassem que os meus natais preferidos foram ao seu lado e que o dia 24 não será, nunca, o mesmo sem você. Senti-me feliz, minha avó, pelos natais que dividimos e tive a certeza de que nosso breve encontro me transformou para todo o resto de minha vida. Desejei que a senhora estivesse bem. Desejei, minha avó, que eu pudesse te reencontrar logo.

Fernanda Marinho Antunes
Enviado por Fernanda Marinho Antunes em 24/12/2018
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