Feliz Natal de Novo

00h

O celular não estava mais tocando, e aquilo era uma mistura de ruim com bom confusa e sufocante.

A hora não passava, o dia havia virado, era natal, e mesmo assim nada de ligações. Não havia um bip, um toque com sua música favorita do Red Hot Chilli Peppers, ou qualquer sinal de notificações. Conferiu até mesmo se a opção “Não perturbe” estava ativada, assim, impedindo qualquer tipo de som do telefone, mas não, ele estava lá, com todos os sinais dispostos para berrar a chegada das mensagens...Mas não. Elas não chegavam.

Sentou diante do notebook e o ligou. Enquanto esperava iniciar, lento como sempre, e que vivia adiando a formatação para ver se daria um jeito na lerdeza, olhava automaticamente para a tv, sem prestar a menor atenção no qu estava diante dos seus olhos. Se parasse para assistir, talvez visse que seu filme favorito estava sendo exibido naquela noite de natal. Era “Milagra na Rua 34”, o mesmo que assistia com seu pai, quando este era vivo. Mas agora ele passava ali, diante de seus olhos, frio. Passava diluído em outros pensamentos.

O telefone vibrou. Mas era o grupo de amigos da escola, da turma de 2004. Que todos se fodam. Ele não queria saber deles. Vibrou de novo, agora era sua professora de português e inglês, dizendo que sentia saudade das aulas antes dele viajar e passar oito meses fora. Mas ele também queria que ela se fodesse naquele momento.

Resolveu desligar o celular. Mas antes, o silenciou. Tinha a inocente impressão que se não escutasse as chamadas, os bipes, tudo estaria bem. Tudo aconteceria na ordem natural das coisas. Mas o telefone só ficou cinco minutos desligado. Ele não aguentou. Ligou de novo, e esperou pelas mensagens. Mensagens dela. Sim! Daquela que anos antes ainda mandava mensagens para ele.

3h

Os olhos ardiam. Ele precisava dormir. Durante as duas horas de espera, bebera duas garrafas de cerveja de um litro sozinho, e isso lhe deu sono. Mas não iria conseguir dormir assim. Ele estava tenso. Ansioso. Ele só queria um Feliz Natal que fosse. Mas não vinha. Não naquela noite. Não como antigamente. O natal, há 4 anos, não era o mesmo. E Nele carregava essa vã esperança de que naquela data, algo mágico e incondicionalmente aguardado, poderia acontecer.

Mas no fundo não ia acontecer. O FELIZ NATAL dela, dela especificamente, não viria. Ele só precisava deixar pra lá essa obsessão. Essa vontade de ser importante ainda na vida de algumas pessoas. Pessoas que simplesmente passaram. Que simplesmente tiveram alguma importância momentânea, mas que agora, eram apenas lembranças, momentos diluídos em mágoas, decepções, e que por isso, marcaram.

5h

Se entregou ao sono.

12h

Acordou. E agora não estava nem aí para o natal. Foi até a geladeira, tomou mais duas cervejas sozinho, e brindou, junto ao Papai Noel sobre a mesa, pedindo um ano novo cheio de novidades. E que as pessoas do passado, ficassem lá no passado, e que não precisasse mais pensar que só seria feliz, se fosse lembrado ou visto por elas.

Fael Velloso
Enviado por Fael Velloso em 23/12/2018
Código do texto: T6533510
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