Meu netinho e o Não!
Meu netinho e o Não!
Meu netinho tem 1 ano e 9 meses.
Desde quando adquiriu os primeiros rudimentos da comunicação verbal, um pouco mais elaborada que choro e gritos lancinantes, ele fez uma opção existencial pelo não. Para ele tudo é não!
No começo, como todo vovô, achava aquilo engraçado e não me preocupava.
Agora, aqui mais por perto e tendo tempo, comecei a pensar mais seriamente sobre a questão do NÃO e a escolha existencial do meu netinho.
O NÃO é advérbio que expressa o sentido da negação, da rejeição. É o modo explícito de se comunicar que você não quer ou não concorda com qualquer coisa: uma comida, um pedido de namoro, casamento, um empréstimo, aval, em tempos modernos, a recusa do assédio, o cortejo, como meu netinho, de forma direta, o não ao contato sexual. Não é não.
Meu netinho, apesar da pouca idade, demonstra uma sabedoria e habilidade incomum, a capacidade de dizer NÃO. Daqui mais alguns anos ele descobrirá que a maioria das pessoas sofrem e sofrem muito justamente por não serem capazes de exercerem a habilidade que ele espontaneamente desenvolveu: a capacidade de dizer NÃO.
Refletindo sobre esta habilidade do meu netinho e o sofrimento das pessoas em não desenvolve-la comecei a entender que o NÃO é muito mais positivo e adequado para o relacionamento interpessoal que o SIM.
Geralmente, a pessoa que recebe um pedido está em desvantagem com relação à pessoa pedinte. Enquanto esta tem oportunidade de pensar, avaliar, pesar antes de fazer o pedido, ela está desprevenida emocionalmente e a sua resposta precipitada se compromete e se agrava com a pressão cultural pela positividade. O que dirão se eu negar!
Isto parece explicar a razão da grande dificuldade das pessoas em dizerem não.
Aqui, acho eu, está a sabedoria do meu netinho de 1 ano e 9 meses
Qualquer que seja a resposta, sim ou não, o impacto emocional será sempre maior do NÃO do que do SIM, mas, arrepender de um NÃO é menos impactante e muito positivo, em qualquer circunstância, do que arrepender de um SIM. Muitas vezes não há como voltar atrás de um sim, mas de um não há sempre uma abertura, é como o próprio advérbio sugere, “pelo sim, pelo não”.
Meu netinho é sábio: melhor corar uma vez que perder uma amizade para sempre!