A TIRANIA DO PENSAMENTO.

As minhas histórias - não todas, mas uma boa parcela delas -, são utopias transparentes. Resolvi escrever assim por opção, é claro que, muitos escritores seguem em outras linhas trabalhando em diferentes frentes literárias . Personagens complexos psicologicamente ,por exemplo, enredos igualmente complicados e cheios de trincheiras e acontecimentos que amarram tão bem à trama. Não os critico por fazê-lo assim, até admiro, e acho belíssimo, mas, no meu caso, penso da seguinte maneira: Vivemos em um mundo cada vez mais difícil, onde já não está sendo possível 'sonhar'. Daí a minha deixa, de que, pelo menos nas minhas histórias malucas, imaginar situações utópicas ( onde tudo ocorre quase que perfeitamente ), é minha válvula de escape, já tentei mudar e escrever diferente, mas confesso que não consigo, na verdade, nem sei se quero.

As vezes me sinto como Balzac, querendo escrever desvairadamente, grandes histórias, a própria comédia humana.

As vezes me sinto como Gogol, tenho vontade de rasgar toda minha obra em um acesso de loucura e raiva, e jogar tudo no fogo.

As vezes me sinto como Fernando Pessoa, tendo dentro de mim muitas personalidades diferentes, heterônimos ocultos, um para cada momento de loucura.

As vezes sou simplista como Rubem Braga, e quero trabalhar na quietude de uma boa crônica.

As vezes eu quero a destreza narrativa de Rubem Fonseca, escrevendo contos e romances de tirar o fôlego.

As vezes me sinto como João Ubaldo, apenas um romancista trabalhando a seu tempo.

As vezes me sinto como Júlio Verne, com uma mente científica e enigmática em obras magníficas e intrigantes.

As vezes me sinto obscuro como Edgar Alan Poe. E me sinto escrevendo o corvo, ou histórias assombrosas e 'geniais'.

As vezes, e como se pode perceber por essa narrativa, que na verdade, eu não sei quem sou de verdade querendo ser tudo e todos ao mesmo tempo.

Tenho dentro de mim incontáveis universos, fico escutando as vozes de meus personagens o tempo todo dentro da minha cabeça. Eles gritam, narram, querem ganhar vida no papel, eu os controlo, pelo menos os mantenho em certo controle, enquanto vivo em meu próprio descontrole emocional.

Afinal… Quem eu sou? Ou o que eu sou?

Hoje estou em um desses dilemas complexos, a correr no limiar da loucura. Quero escrever tudo, a própria alma humana, e nada ao mesmo tempo. Talvez essa seja uma falha tentativa de me encontrar, pois me sinto perdido, confuso, solitário; dizem que todo artista aprendeu e ainda aprende suas grandes lições com a solidão. Será mesmo verdade?

O meu coração é defeituoso, eu sei que é, precisa. urgentemente de reparos e cuidados. O meu coração, bate em descompasso na caixa do peito, buscando desesperadamente outro coração na mesma sintonia e frequência literária para interagir. Onde estará esse coração? Por favor, me diga você leitor, seja sincero, poderia dizer-me onde estará esse coração?

Estará perto?

Estará distante?

Estará presente?

Estará ausente?

Seria o seu?

São perguntas que tenho medo de responder.

Afinal, esse medo, essa insegurança, tomou conta da minha alma, das minhas decisões, de tudo enfim. É um fantasma de outras épocas e de longas datas.

Hoje, impressionei-me ao ver a tua imagem, o teu olhar brilhante, o teu sorriso encantador, os lábios tão bem desenhados. Imagino uma vez mais, e como poeta ingênuo talvez, sim, eu imagino, o sabor adocicado do teu beijo, o toque suave das tuas mãos, a voz como canção aos ouvidos. Imagino sim, em uma realidade completamente irrealizável, um mundo paralelo, e como eu disse anteriormente, são reflexos distorcidos de meus muitos universos, são minhas personagens me aterrorizando.

Obrigado por me ouvir beija-flor - aquele mesmo de outrora - sei que mesmo distante, sei que mesmo ausente neste momento, o lume de teu olhar nesta simples crônica, e o sorrir de teus lábios, acalenta minha dor.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 22/12/2018
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