Pandora
Minhas alucinações começam a sair da minha alma, uma gigantesca caixa de pandora feita da casca do meu ser. Sei mais do que queria mas muito menos do que deveria e a cada aplauso de jovens bêbados vestidos de plateia eu sinto a minha traqueia se descolar da garganta. Putas vestidas de santas, serafins sentindo ódio da humanidade, a umidade das suas coxas é que me faz pensar num amanhã invisível. Invejo os poetas que fizeram história, invejo ainda mais os que são completamente desconhecidos porque é dentro deles que as verdadeiras palavras se escondem. Os cascos de cerveja quebrados tem um brilho verde esperança. As igrejas mais populares de São Paulo são feitas de mictórios. As paredes delas escondem segredos que deixariam até o Diabo enojado. Faço votos de silêncio como um padre diz fazer voto de castidade. Pra surtar não se tem idade, pra morrer também não. Quem eu sou é o reflexo do que eu sei que nunca vou ser misturado com duas doses de despedida e o riso contido por uma piada sem graça. Doze metros de estrada é o que separa a minha boca da sua. Doze centímetros é o que separa o fósforo do meu cigarro amaçado. Qual é o caminho mais seguro até o meio das suas pernas? sinto pena de todos aqueles que nunca sentiram nos lábios o néctar dos seus beijos molhados