VELHOS PIRADOS
(Diário de minhas andanças - abril/2012)
Era manhã de um dia qualquer em 1972.
O rádio “esgoelava-se” num dos maiores sucessos de então.
Uma linda canção francesa que ouvia-se o tempo todo.
Mamãe,que varria o jardim,adentrara pela porta da frente e,abraçada à vassoura,foi deslizando pela sala num valseado acompanhando os acordes da melodia.
Alegre e expontânea como sempre fora,mirava-se no espelho enquanto dançava e cantarolava num “La,rá,rá,rá...”acompanhando as vozes dos intérpretes.
Devia estar ,naquele instante,imaginando-se uma Edith Piaf,caso conhecesse sua história. Na sua simplicidade,jamais ouvira e nem tivera a menor ideia de quem fora a tal celebridade.
Ainda que a fluidez de seu olhar,a fizesse naquele instante uma espécie de dama no Palácio de Versailles.
Num canto da mesa eu preparava alguns materiais de escola .Ela me sorriu,como que convidando-me a ser o seu par naquela dança.
Revestido da burra rebeldia sem causa que costuma assolar quem aproxima-se dos vinte anos,enderecei-lhe um ar de reprovação.
Olhei para o lado como que encarando uma entidade qualquer e com o dedo indicador desenhei algumas circunferências ao redor da orelha.
No fundo estava deliciando-me com mais um de seus inusitados instantes de alegria,ainda que meu suposto azedume,acompanhado do gesto ao redor da orelha,afirmassem:
“Chiiii!...A véia pirô!”
Mais alguns meses e o sucesso caiu no ostracismo.
Tarde de um domingo qualquer de 2012.
Numa destas navegações pela NET ,eis que deparo-me com a dupla francesa “Stone et Charden” e a canção “L’ Aventura”.
Aquela!...
A mesma que há quarenta anos atrás embalara a descontração de minha mãe,numa manhã qualquer enquanto o rádio tocava.
Baixei o vídeo e sorvi cada nota,cada imagem,num misto de emoção e saudade.Daria tudo para retomar o tempo ,ser - lhe o par na dança ,naquela sala onde a felicidade marcara presença.
Cantarolei num “Lá,ra´,rá,rá...valseado ,mirando meus passos imaginários naquele mesmo espelho em que a suposta dama francesa viu-se um dia refletida.
Pensei em compartilhar meu instante mágico e não encontrei ninguém por perto.Só então,deparei com olhares observadores de meu filho e seu amigo ,a cruzar-se em silenciosas constatações:
-“Chiiii!...O véio pirô”
Era a história repetindo-se.
Num átimo de reflexão passei a divagar sobre a “ tal felicidade”.
Quando se tem vinte anos,pouco se cogita a ideia de que um dia terá sessenta.
Quando os atinge,rumina-se o tempo dos vinte,com a sucateada expressão:”Eu era feliz e não sabia”.
Considerando-se que fora preciso decorrer quatro décadas para tal constatação,urge ser feliz agora (e muito ! ),reconhecendo-se sabedor de sua felicidade,uma vez que muito poucos serão aqueles que atingirão um século ,com lucidez, para reviver quatro décadas e relembrar dos "sessenta " valendo-se da mesma sucateada expressão:
" Eu era feliz e não sabia ".
Para entender melhor este texto,clic no link abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=geRKcL0bp9Q
(Diário de minhas andanças - abril/2012)
Era manhã de um dia qualquer em 1972.
O rádio “esgoelava-se” num dos maiores sucessos de então.
Uma linda canção francesa que ouvia-se o tempo todo.
Mamãe,que varria o jardim,adentrara pela porta da frente e,abraçada à vassoura,foi deslizando pela sala num valseado acompanhando os acordes da melodia.
Alegre e expontânea como sempre fora,mirava-se no espelho enquanto dançava e cantarolava num “La,rá,rá,rá...”acompanhando as vozes dos intérpretes.
Devia estar ,naquele instante,imaginando-se uma Edith Piaf,caso conhecesse sua história. Na sua simplicidade,jamais ouvira e nem tivera a menor ideia de quem fora a tal celebridade.
Ainda que a fluidez de seu olhar,a fizesse naquele instante uma espécie de dama no Palácio de Versailles.
Num canto da mesa eu preparava alguns materiais de escola .Ela me sorriu,como que convidando-me a ser o seu par naquela dança.
Revestido da burra rebeldia sem causa que costuma assolar quem aproxima-se dos vinte anos,enderecei-lhe um ar de reprovação.
Olhei para o lado como que encarando uma entidade qualquer e com o dedo indicador desenhei algumas circunferências ao redor da orelha.
No fundo estava deliciando-me com mais um de seus inusitados instantes de alegria,ainda que meu suposto azedume,acompanhado do gesto ao redor da orelha,afirmassem:
“Chiiii!...A véia pirô!”
Mais alguns meses e o sucesso caiu no ostracismo.
Tarde de um domingo qualquer de 2012.
Numa destas navegações pela NET ,eis que deparo-me com a dupla francesa “Stone et Charden” e a canção “L’ Aventura”.
Aquela!...
A mesma que há quarenta anos atrás embalara a descontração de minha mãe,numa manhã qualquer enquanto o rádio tocava.
Baixei o vídeo e sorvi cada nota,cada imagem,num misto de emoção e saudade.Daria tudo para retomar o tempo ,ser - lhe o par na dança ,naquela sala onde a felicidade marcara presença.
Cantarolei num “Lá,ra´,rá,rá...valseado ,mirando meus passos imaginários naquele mesmo espelho em que a suposta dama francesa viu-se um dia refletida.
Pensei em compartilhar meu instante mágico e não encontrei ninguém por perto.Só então,deparei com olhares observadores de meu filho e seu amigo ,a cruzar-se em silenciosas constatações:
-“Chiiii!...O véio pirô”
Era a história repetindo-se.
Num átimo de reflexão passei a divagar sobre a “ tal felicidade”.
Quando se tem vinte anos,pouco se cogita a ideia de que um dia terá sessenta.
Quando os atinge,rumina-se o tempo dos vinte,com a sucateada expressão:”Eu era feliz e não sabia”.
Considerando-se que fora preciso decorrer quatro décadas para tal constatação,urge ser feliz agora (e muito ! ),reconhecendo-se sabedor de sua felicidade,uma vez que muito poucos serão aqueles que atingirão um século ,com lucidez, para reviver quatro décadas e relembrar dos "sessenta " valendo-se da mesma sucateada expressão:
" Eu era feliz e não sabia ".
Para entender melhor este texto,clic no link abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=geRKcL0bp9Q