Percival Pestana e o hexacampeão

Percival Pestana em tempos de Copa do Mundo, era fanático por futebol. O desastre da goleada que o Brasil tomou de sete a zero da Alemanha, levou-o ao enfarte. Percival Pestana nem deu conta. Quando deu por si, já estava diante de um sinistro sujeito de vestidão branco, ao aguardo de uma imensa fila que não aparentava ter fim. Até a fila do INSS perdia para a tal fila. O tempo para o seu atendimento foi intenso. Foi cruel. Mas como Percival Pestana havia batido as botas como dizia os meus avós: tempo era o que não lhe faltaria dali a diante.

O momento de atendimento chegou. De frente a um sinistro Senhor sobre um olhar muito sério, Percival teve que encarar a situação. Sem muitos comentários quis saber que lugar era aquele. Foi aí que se deu conta que a Dona Morte não tirava folga nem no dia mais importante para a nação brasileira. Percival resolveu superar o caso, tentou negociar com o tal sujeito:

— Pô, como assim? Hoje é dia de jogo. Um dia tão importante. Poderia conversar com o teu camarada que sei lá quem é, e dar um jeito de voltarmos a algumas horas antes e de preferência, livrar a nação brasileira da terrível goleada da Alemanha. Vai lá, quebra esse galho para nós. A nação Brasileira te agradece. Seriamos équiza campeão. Équiza! Sabe o que significa isso? Só o Brasil tem esse título.

O sujeito não aparentava se quer uma pequena comoção ao caso. Também, não o desrespeitou.

— O Senhor nunca teve professor de português?

- Tive várias, mas o que mais tenho agora, é uma nação inteira tomando quase o mesmo rumo do que eu.

— Nenhum dos professores nunca te ensinou que quando uma palavra se inicia com “e” ou “h”, logo acompanhado de “x”, o tal “x” tem o som de “z”? É hexacampeão (pronunciando-se “ezacampeão”). É por isso que o Brasil perdeu. Quer ganhar a copa custando a vida da Língua Portuguesa? Língua Portuguesa também é gente.

Por alguns instantes, Percival Pestana se silenciou, percebera que o seu jeitinho malandro brasileiro não havia convencido o tal sujeito.

— Desculpe, Seu Doutor! Se é isso que preciso me redimir.... Eu me redimido, mas deixa eu voltar para lá. Prometo ser leal a Língua Portuguesa. - o tal sujeito continuava na postura não cedendo ao pedido. – Prometo ser um ativista defendendo os ditongos pronunciados nos meios das palavras. Veja: tem gente que fala besoro, vassora, tesora... Como além de ensiná-los a torcer para o Brasil na próxima copa, auxiliá-los-ei a valorizar mais os ditongos. Olha, só, eu não sou tão mal assim: besouro, vassoura, tesoura...

A persistência foi tão grande. Enfim, Percival Pestana tempo era o que não faltaria para o atormentá-lo mais ainda. O pedido foi cedido, mas com única conclusão. Percival voltou, como dicionário da Língua Portuguesa.