ANOTAÇÕES.
A presente angústia acentua-se no decurso das horas. Desejoso estou em obter o meu indulto, o salvo conduto que me livrará de uma eminente sentença de morte, caminho de um lado para o outro, buscando no nada o meu pedaço de tudo.
Ainda não obtive a resposta desejada, naturalmente que, toda essa quietude e silêncio só faz agravar a minha já agressiva impaciência. Um turbilhão de pensamentos vagam como fantasmas pela minha cabeça, todos, de igual modo me entristecem potencialmente.
Sou filho do silêncio, entretanto, para o meu desespero, não estou mais convivendo com ele; pelo contrário, a ausência do silêncio tende a me irritar. Aborreço-me constantemente, e, por vezes em vários momentos do dia.
As vezes tento disfarçar a minha imagem interna, por assim dizer, através de um pálido e falso sorriso. Sempre dá certo, convenço à quase todos. Tal atitude tem se tornado demasiadamente insuportável de se encenar. Tenho a impressão de que sou cada vez mais o que nunca queria ser, mas, àquilo que sempre desejei, parece que nunca serei, estou sempre fugindo de mim.
Não quero me prender as sensações e emoções que duram apenas alguns minutos, quero, e vou focar, em outros objetivos mais duradouros. Não quero gastar mais tempo em coisas infrutíferas e sem futuro. Quero ser como os pássaros, que livres voam onde bem entendem fazendo e cantando alegremente. Mas talvez não seja exatamente isso que ocorra, quem saberá afinal.
Confesso que tenho medo, tremo só em pensar que não vou obter o meu salvo conduto, angustio-me ao ponto de uma quase depressão. Não que eu seja ingrato onde estou, acontece que, existe aqui dentro de mim qualquer coisa complicada demais, que me consome.
Vejo todos os dias diversos olhares, inúmeros sorrisos, conversas, confissões, reclamações, histórias engraçadas, tristes. Vejo tudo, mas não consigo enxergar nada, tenho tudo, mas nunca consigo obter quase nada. Os meus dias tem sido assim, nada menos, nada a mais.
O meu coração está angustiado, inquieto, sem lugar, batendo desconsolado. O meu coração é assim, às vezes eu fico irreconhecível, e hoje, exatamente hoje, estou em um desses dias de intranquilidade. Não há nada de errado com o dia em si, que por sinal se faz encantador. Sol forte, nuvens acinzentadas, não muitas, espalhadas entre nuvens brancas, algumas muito altas, outras parecem querer trocar o chão. O sol forte é sinal de chuva mais tarde, mas, por enquanto, o dia está perfeito, eu continuo imperfeito, indeciso, triste e melancólico, não quero pensar no que me aguarda, não quero pensar em nada. Eu quero apenas o silêncio, por hora o silêncio, um bom livro, folhas em branco, e nada mais.