Simplesmente...

Aquelas sensações, as angústias, as ansiedades, os medos, precisavam sair do mundo que imaginara e criara para si aos longos dos últimos dias e tudo parecia-lhe que a sufocaria, tudo estava a flor da pele, os olhos marejavam só de imaginar o peso de toda aquela bagagem emocional que estava vivenciando e carregando por ali, estremecia. Por alguns instantes simplesmente o seu mundo ruiu e quase desabou.

Mas, prometera a si mesmo, que a vida precisava renova-se a cada instante que lhe fosse permitido respirar, inspirar... Sabia que mesmo que tudo parecesse simples aos olhos daqueles que estavam à sua volta, lhe doeria um pouco. Aliás até que ponto os que estavam ao seu redor todos os dias, às vezes ou quase nunca, sabiam de quanto lhes era difícil o simples fato de continuar evoluindo e cumprindo o dever de casa?

Simplesmente decidira que já não precisava incomodasse com o que acharia afinal, a convicção, a entronização da mensagem que lhe enviaram há alguns dias lhes dizia: o endereço mais difícil de ser encontrado era o endereço do outro!

Mas, alguém perguntou-lhe: você permitiria que conversarssémos olhando nos olhos?

Já sabia que a conversa olho no olho, revelaria-lhe os segredos que o brilho ou marejo (lágrimas) tentam por vezes disfarçar...

Mas sabia que uma hora dessas qualquer, este momento simplesmente seria inevitável...

Aproveitou daquele momento que estranhamente não lhe pareceu invasivo... Será que demonstrar parte daquilo que temia não lhe seria tão mal assim? Afinal, a frase mais ouvida nos ultimos anos de sua vida era a de que " nada era por acaso e que há males que vem para o bem". Emocionou-se a perceber que para continua o dever de casa que o Criador lhe aplicava, exigia também de si, a boa convivência. Aliás, havia lido um pouco sobre o bom conviver e o melhor exemplo dado foi: o do simples fato de se fechar um fecho( ziper) traseiro em seu vestido, lhe era necessário ajuda e de preferência de sua espécie...

Será então que deveria desistir do seu mundo de solicitude/solidão? Ou seria simplesmente não mais comprar o vestido com o fecho traseiro?

Não tinha mais certeza de nada e talvez fosse mais fácil assumir que têm horas que é mesmo difícil viver ali naquela fria solidão. Talvez ainda não estivesse preparada para isso pois, por vários anos optara por ter esta liberdade...

A conversa olhos no olhos, custou- lhe alguns embaraços, dúvidas, certezas... Sabia que estava indo no caminho certo. Pois, os olhos ainda revelam e

são como janelas para a alma!

Simplesmente sabia que só precisava revelar o que estava escrito e aquilo que estava em seu ser, era só seu, tão somente seu. E revelar-se era simplesmente questão de escolha e por alguns minutos lhe fora bom. Sentiu-se mais leve e essa leveza contagiou o mundo. Por que tornar-se um fardo, a tornaria alguém chato e de difícil convivência e isso já não cabia em seu mundo!

Sejamos leve, o novo mundo lhes será grato!

Ana Lúcia Saturnino
Enviado por Ana Lúcia Saturnino em 17/12/2018
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