páginas de sangue
É passado o tempo em que os sentimentos existiam.
É praxe desavença ousar olhar com olhos que brilham à medida dos momentos.
É regra atrofiar as asas, congelar as correntes, asfixiar os perfumes.
É pecado mostrar a lágrima que rola e é necessário muito mais para provar a veracidade da mesma.
É preciso engolir.
É preciso aceitar.
É preciso sangrar.
É uma luta abrir os olhos e tocar o chão, sem sentir o mínimo de dor.
É básico, incerto, imortal.
É aconchego ao mesmo tempo que nada te sobra, nem um sopro de alma.
Cala-te voz. O teu temor não vale, não diz, não condiz.
O teu valor não tem, não vive, não se desenha a giz.
Não busque. Não tente. Apenas abaixe teus olhos e siga – em silêncio.
E sigo, numa quebra interminável e tentativas de juntar os destroços.
E me torno pó enquanto escrevo em páginas de sangue, palavras duras que cortam a pele pálida.
E vejo luz, que perdoa as feridas abertas e costura-as em cicatrizes malfeitas.
E ando só, de pés descalços deixando rastro de maldição.
E sou ninguém – não sinta, não pergunte – em vão.