Meu olhar se perde no sofrimento de tantas mulheres, a doença já não era o bastante? foi preciso submeter essas pessoas ao ultraje? Quanto vale a cura, ou melhor, a promessa de ficar curada? Até quando vamos nos submeter aos milagres engendrados?

Na longa estrada da doença autoimune muitas vezes me indicaram médiuns, pajés, seitas, curandeiros. Fui a vários, na fase em que não aceitava e não me tratava de forma adequada. Nenhum me curou, mas fiz várias cirurgias espirituais com o espírito do Doutor Fritz, e me senti melhor a ponto de adiar a cirurgia na coluna por alguns anos. Tempo de surgir uma nova abordagem, menos invasiva e minimizar o procedimento. Eu acredito na força da fé. Claro que acredito, mas nunca sofri qualquer assédio durante os atendimentos.

Dói. Dói terrivelmente o silêncio, a violência, o abandono e a fragilidade da verdade. Nada disso é novo, são anos e anos de tentativas para  trazer a informação, muitas mulheres tentaram contar sobre a violência mas não havia escuta, ninguém quis ouvir. Foi preciso mostrar o rosto para a voz tomar importância, se não fosse a coragem de uma mulher, todas as outras não teriam sido levadas a sério. Os abusadores sabem disso, contam com o preconceito e se escondem, contam com a falta de empatia, descrédito e da nossa fragilidade como pacientes para maltratar. Submeter.

De todo esse episódio,  sinto muito, muito mesmo por todas as vítimas. Quantas deixaram de viver plenamente, quantas desistiram de lutar pela vida, quantas sentiram-se indignadas com a religião e perderam a fé, quantas não tiveram um mínimo de atenção? Quantas vezes vamos precisar passar por situações semelhantes?
Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 17/12/2018
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