Será que foi um sonho?
 

O coração explodia de ansiedade.
A placa informava que faltavam apenas 25 quilômetros para chegar. Eu acreditava que poderia ser algo, surpreendentemente, inesquecível.
O último posto, antes da cidade, distava três quilômetros.
O coração espancava o meu pobre peito e o painel do carro alertava, com uma luz intermitente, que eu precisava completar o tanque de combustível.
Aproveitei para tomar um café. Na verdade, precisava saber se ela estava online.
Escrevi bom dia e ela respondeu: - Onde é que cê tá?- Viajando, respondi. Ela disse: - Você sumiu! - Estou entre as conchinhas dos seus poemas, respondi e encerrei a conversa. Não queria estragar a surpresa.
Resolvi retomar a estrada e, como um andarilho, ir vagarosamente palmeando cada pedaço do caminho por onde, ela certamente já havia percorrido.
Observei cada árvore, cada pássaro, cada recanto e cada detalhe que talvez pudesse me fazer lembrá-la.
Algumas vezes, era movido por uma sensação estranha, me fazendo crer que cada um desses pequenos cenários e lugarejos, tivessem sido motivos de inspiração para contos e poesias que ela, por ventura, tenha escrito.
Imaginava-lhe o cheiro da pele e a doce fragrância que certamente exalava. Não sei como, mas o seu cheiro eu conhecia.
Finalmente cheguei! O relógio indicava 8:37hs da manhã. A cidade vivia um burburinho de carros e pessoas apressadas.
E eu, pelo GPS, procurava a moça da revista que tanto me encantou e que, como uma feiticeira cruel, absorveu todas as minhas memórias e ideias e as transformou em prendas suas, e os mais simples pensamentos tornaram-se reféns de um bom dia, de uma boa noite e de uma risada inesquecível.
Subi algumas ruas, desci outras e finalmente estava lá, em frente àquele número inimaginável.
O coração em desatino, dizia que seria bom esperar o melhor momento.
Mas, a aflição me corroía e dizia que não poderia mais esperar.
Eis que de repente, num momento fortuito e absolutamente único pude, à frente daquela casa, conhecer a singeleza da sua imagem, viva e pulsante.
Trazia um livro nas mãos, certamente um que falava sobre as estrelas.
Um sorriso de menina e um desenho de mulher que encantava e ratificava o que o meu pensamento dizia o tempo todo.
Quis sair do carro e dizer que eu havia chegado e que finalmente tudo era possível! - Veja, eu estou aqui, eu queria dizer!
Faltou-me a coragem. Fiquei atônito, agarrado ao volante, ciente que aquele não era o melhor momento.
Resolvi fazer alguma coisa para sair daquele estado de torpor.
Dei três sonoras buzinadas e ela, acreditando talvez que fosse um gaiato qualquer, não deu bola, passou a mão no menino loiro que a acompanhava e, com passos firmes e serenos, seguiu rua abaixo, levando os meus olhos e um monte de promessas e sonhos.
Liguei o carro e, entre os dentes, balbuciei uma frase qualquer.
- Eu volto mais tarde!!!
Germano Ribeiro
Enviado por Germano Ribeiro em 16/12/2018
Reeditado em 18/03/2019
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