Cala a boca já morreu

O título acima era um axioma muito empregado nos meus tempos de criança-adolescente e que, de certo modo, revelava o direito de se falar o que se queria, principalmente pelas bocas desaforadas, que depois foi traduzido para “liberdade de expressão”. Em verdade, a expressão completa é “cala a boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu” e muitos dos meus dez leitores já devem ter ouvido ou feito uso da mesma.

Mas esse “cala a boca já morreu” acima, é o título de uma carta da Editora Abril, endereçada a este escriba que vos fala, relembrando meus áureos tempos de assinante da Revista Veja quando ela se incluía como uma revista de resistência nos angustiantes anos de chumbo, sob a batuta do destemido Mino Carta. Agora, abraçada a causas menos nobres, ou melhor, espúrias, que já teve até um bandido chamado Carlinhos Cachoeira opinando sobre a linha editorial da revista, ela quer que eu volte a ser assinante e acompanhe as mudanças que se seguem nesse país pós-traumático e às vésperas de novo trauma ideológico. Para isso, me ofereceram até desconto de setenta por cento. Mesmo assim liguei para a Editora para pechinchar um pouquinho mais:

- Vocês me mandam a revisa de graça e me pagam quinhentos reais para eu ler!

Até que era uma proposta razoável. Meus advogados disseram que eu devia ter pedido dez mil, mas, depois de pagar os honorários devidos, iria ficar com menos de quinhentos paus. Por isso a negociação direta, sem intermediário.

Claro, a Editora não aceitou, mas na semana passada me ofereceram a revista Veja pelo preço de dez por cento do valor da assinatura. Mais dia, menos dia, vão terminar aceitando a minha proposta e aí quem não vai querer sou eu. Só se me pagarem os dez mil reais que os advogados sugeriram. Sem os honorários, claro.