LINGUAGEM UNIVERSAL DA NATUREZA! ACHO QUE É ISSO...
- Crônica do dia 09 - 12 - 2018 -
Meu pai, como um bom baiano, ainda mais dos bons tempos de Jorge Amado e Caymmi, era um homem muito místico, e acreditava plenamente nessas coisas de LINGUAGEM UNVERSAL DA NATUREZA e LEI GERAL DO UNIVERSO.
Ele frisava todo “santo dia”, que tudo na natureza é linguagem.
Pode ser escrita, falada, ou não. O idioma, como ele dizia, foi apenas uma padronização humana para se tornar mais fácil a comunicação entre as pessoas.
O que tem suas vantagens, mas, por desuso, tornou-se uma minoria, aqueles que conversam por meio desta linguagem universal.
A primeira vez que eu vi a prova que essa tal LINGUAGEM UNIVERSAL DA NATUREZA, existe de fato, foi quando meu padrinho teve derrame cerebral. Eu ainda era criança.
Ele perdeu os movimentos da parte esquerda do corpo, por completo, de tal forma, que prejudicou até sua fala.
Depois que ele recuperou a fala, ele disse que na cabeça dele, ele estava falando um monte de coisas, mas ao redor, ninguém ouvia, e só dava desespero e vontade de chorar.
Porque ele se sentia morto.
Meu padrinho era uma pessoa tão falante, mas, tão falante, que vivia conversando em voz alta, consigo próprio, no meio da rua, e, como um bom baiano, que era, sem se importar com a opinião alheia.
Isso é que é legal do baiano! Para o baiano, importa pra ele, estar feliz, e o baiano tem um conceito de felicidade muito simples. Porque, como me disse um outro baiano, na Bahia as pessoas já nascem chiques! E quando nascem em Xique-Xique, aí são CHIQUEs TRÊS VEZES!
Mas naquela condição triste, que meu padrinho se encontrava sem conseguir se comunicar, tinha um primo meu, apenas um, o meu primo Carlos, que conseguia entender aqueles grunhidos de meu padrinho.
Todos ficavam impressionados! Sequer leitura labial era possível. Os lábios também estavam imóveis.
- Como você consegue entender? – Perguntavam todos.
- Não sei, bicho! Eu olho na bola do olho dele, e o que ele quer falar vem na minha mente! Aí eu pergunto se é aquilo mesmo, ele confirma, e é isso aí!
Continuou:
- Nóis troca uma ideia desse jeito... Acho que porque meu pai sempre foi “de pouca ideia” comigo...
Eu sempre tive dificuldade nisso. Até na música sempre foi meio difícil pra mim, essa coisa de LINGUAGEM UNIVERSAL DA NATUREZA.
Sempre quis aprender... E aí ontem, eu conheci uma menina.
Um verdadeiro anjo na terra, que assim como minha irmãzinha, é especial.
Mas são especialidades diferentes, esta garota tem dezessete anos e sofre com EPILEPSIA. Quando ela me viu, me agarrou e não quis mais soltar, eu comecei a cantar pra ela, e ela começou a chorar, enquanto eu acariciava as costas dela.
Ela mal fala. A vontade dela, só é estar perto das pessoas para abraça-las. E ela agradece ternamente e intensamente, cada abraço que as pessoas correspondem!
- Eu quero estar perto de muita gente! Foi o que ela me disse no início do dia.
E enchia os olhos de lágrimas, que eu secava continuamente, enquanto eu conversava com ela, e ela me agarrava firmemente e ia se acalmando.
- Ninguém gosta de mim! Ninguém quer ficar perto de mim! Eu só quero abraçar as pessoas!
- Calma querida... Tem muita gente que gosta de você, e eu sou uma delas... Fique tranquila que hoje a gente vai ver muita gente! E vai abraça-las! Prometo!
E nós a trouxemos para o meu bairro, onde tem muitas crianças, e muitas pessoas também. E ela, de fato, saiu correndo e abraçando todo mundo! Quanto amor!
A mãe dela me perguntou como foi que eu entendi o que ela estava falando, sendo que muitas vezes, nem ela entende direito.
E eu respondi:
- LINGUAGEM UNIVERSAL DA NATUREZA. Acho que é isso...
Graciliano Tolentino
- Crônica do dia 09 - 12 - 2018 -
Meu pai, como um bom baiano, ainda mais dos bons tempos de Jorge Amado e Caymmi, era um homem muito místico, e acreditava plenamente nessas coisas de LINGUAGEM UNVERSAL DA NATUREZA e LEI GERAL DO UNIVERSO.
Ele frisava todo “santo dia”, que tudo na natureza é linguagem.
Pode ser escrita, falada, ou não. O idioma, como ele dizia, foi apenas uma padronização humana para se tornar mais fácil a comunicação entre as pessoas.
O que tem suas vantagens, mas, por desuso, tornou-se uma minoria, aqueles que conversam por meio desta linguagem universal.
A primeira vez que eu vi a prova que essa tal LINGUAGEM UNIVERSAL DA NATUREZA, existe de fato, foi quando meu padrinho teve derrame cerebral. Eu ainda era criança.
Ele perdeu os movimentos da parte esquerda do corpo, por completo, de tal forma, que prejudicou até sua fala.
Depois que ele recuperou a fala, ele disse que na cabeça dele, ele estava falando um monte de coisas, mas ao redor, ninguém ouvia, e só dava desespero e vontade de chorar.
Porque ele se sentia morto.
Meu padrinho era uma pessoa tão falante, mas, tão falante, que vivia conversando em voz alta, consigo próprio, no meio da rua, e, como um bom baiano, que era, sem se importar com a opinião alheia.
Isso é que é legal do baiano! Para o baiano, importa pra ele, estar feliz, e o baiano tem um conceito de felicidade muito simples. Porque, como me disse um outro baiano, na Bahia as pessoas já nascem chiques! E quando nascem em Xique-Xique, aí são CHIQUEs TRÊS VEZES!
Mas naquela condição triste, que meu padrinho se encontrava sem conseguir se comunicar, tinha um primo meu, apenas um, o meu primo Carlos, que conseguia entender aqueles grunhidos de meu padrinho.
Todos ficavam impressionados! Sequer leitura labial era possível. Os lábios também estavam imóveis.
- Como você consegue entender? – Perguntavam todos.
- Não sei, bicho! Eu olho na bola do olho dele, e o que ele quer falar vem na minha mente! Aí eu pergunto se é aquilo mesmo, ele confirma, e é isso aí!
Continuou:
- Nóis troca uma ideia desse jeito... Acho que porque meu pai sempre foi “de pouca ideia” comigo...
Eu sempre tive dificuldade nisso. Até na música sempre foi meio difícil pra mim, essa coisa de LINGUAGEM UNIVERSAL DA NATUREZA.
Sempre quis aprender... E aí ontem, eu conheci uma menina.
Um verdadeiro anjo na terra, que assim como minha irmãzinha, é especial.
Mas são especialidades diferentes, esta garota tem dezessete anos e sofre com EPILEPSIA. Quando ela me viu, me agarrou e não quis mais soltar, eu comecei a cantar pra ela, e ela começou a chorar, enquanto eu acariciava as costas dela.
Ela mal fala. A vontade dela, só é estar perto das pessoas para abraça-las. E ela agradece ternamente e intensamente, cada abraço que as pessoas correspondem!
- Eu quero estar perto de muita gente! Foi o que ela me disse no início do dia.
E enchia os olhos de lágrimas, que eu secava continuamente, enquanto eu conversava com ela, e ela me agarrava firmemente e ia se acalmando.
- Ninguém gosta de mim! Ninguém quer ficar perto de mim! Eu só quero abraçar as pessoas!
- Calma querida... Tem muita gente que gosta de você, e eu sou uma delas... Fique tranquila que hoje a gente vai ver muita gente! E vai abraça-las! Prometo!
E nós a trouxemos para o meu bairro, onde tem muitas crianças, e muitas pessoas também. E ela, de fato, saiu correndo e abraçando todo mundo! Quanto amor!
A mãe dela me perguntou como foi que eu entendi o que ela estava falando, sendo que muitas vezes, nem ela entende direito.
E eu respondi:
- LINGUAGEM UNIVERSAL DA NATUREZA. Acho que é isso...
Graciliano Tolentino