O Natal em Natal
No inicio de Dezembro deste ano apanhei um ônibus coletivo que fez uma grande volta até chegar ao bairro do Alecrim,o que vi me deixou estarrecida, no pouco que observei, mas no muito para tanta gente, uma pobreza miserável por todos os lugares que passei, concluir que o meu Nordeste esta devastado, vi velhos mais velhos, crianças sendo adultos e adultos perdidos.Um abandono sem limite.
Vendo tudo isso me veio este poema.
O Natal NATAL.
Vi um letreiro escrito com letra garrafal
Onde se lia “Dezembro já chegou o natal”
Saí a pesquisar o que seria o natal?
Vi os pés de um menino nus no chão quente e escaldante
Ouvi uivos famintos de um magricela animal
Vi um mendigo na rua que dormia no chão
Passava por ele um magnata que não tinha coração
A rua era longa fétida e lamacenta
Seria isso o Natal?
Ou apenas ilusão?
Vi a face de um idoso ressequida e enrugada
As mãos roídas do tempo com que pegou na enxada
Vi um recém-nascido que um seio seco sugava.
Vi a pobreza de espírito que na rua se passeava
Pobres de bolso cheio e a alma cheia de nada
Vi mulher angelical…
Pura e virgem donzela
Vi mulher fera e fatal.
Vendendo o corpo na rua como se fosse normal
Vi mulher maltratada
Doença miséria e mal
Pessoas semeando maldade de uma forma abismal
Seria isso o natal?
Vi
Ruas decoradas com misera decoração.
Seria isso o natal?
Vi pessoas cabisbaixas da vida desiludidas
Buracos e silêncios em mentes deprimidas
Seria isso o natal?
Vidas cheias de apatia…
Ausência de simpatia
Enevoado olhar
Vi lágrimas no canto dos olhos…
Como gotas a escorregar
Tremeram-me as entranhas…
Com tamanho desencanto
Coisas e loisas estranhas…
Que eu disse para mim!
Se, isto é, o natal…
Não quero natal nenhum!
Quero um dia normal
Um dia simples e comum.
Natal.12/12/2018
Maria Tecina.