A olho nu

-Balança caixão

-Balança você

-Dá um tapa na bunda, e vai se esconder

Acabou, não se brinca mais de pique; os desmatamentos acabaram com o habitat dos animais, e os GPS acabaram com os lugares onde poderíamos nos esconder.

Aonde você iria se quisesse se isolar, meditar? O celular sempre nos acompanha, e ele carrega, à reboque, o mundo.

Me preocupo, seriamente, com os filmes policiais, dos quais sou um adepto fervoroso, pois não existe mais mistério: sua digital é evidência, suas pegadas são evidências, a bituca do seu cigarro é evidência, saliva, suor, esperma... tudo é evidência.

O que será do Sherlock Homes, do Dick Tracy, e de uma cambada de velhos detetives? Mais desempregados na praça?

Quando eu era jovem, perfil era o melhor ângulo para se tirar uma foto, hoje não, os bandidos têm seu perfil estabelecido, que revela seus hábitos, seu endereço, seu estado civil.

O que será da lupa? Tão intrigante nas mãos de antigos heróis, hoje ferramenta em desuso, não se vê mais a lupa, ou com a lupa não se vê mais nada.

Eu era garoto e os seriados duravam semanas, semanas a fio para pensarmos em quem poderia ter cometido o crime. Hoje os episódios policiais têm quinze minutos de duração, assim que acontece o assassinato, o tamanho do criminoso, o endereço do criminoso, seus hábitos, sua pizzaria de preferência, tudo já é sabido com a nova tecnologia criminal, o fato é, que tudo perdeu a graça.

Todos os meliantes são velhos conhecidos, ou novos conhecidos, o fato é que não há mais mistério, não há mais privacidade, seja dentro do elevador, seja no provador de roupa de um magazine, você está sendo observado.

Com tanta transparência, ainda assim, não se acaba com o crime, alguns criminosos são, seletivamente, apontados a todo momento, outros são resguardados, ou carregam isenção de responsabilidade, mas todos são identificados.

A grande verdade é que, ideologicamente, o crime não pode ser dizimado, ele ainda ocupa lugar de destaque na “cadeia alimentar”, só tenho a lamentar é que a ação criminosa permanece, mas não posso dizer o mesmo das tramas policiais em enredos ficcionais.

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 13/12/2018
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