SOBRE O CASO JOÃO DE DEUS
O caso de João de Deus, o médium que é acusado de abusar de mulheres durante suas consultas mediúnicas, nos oferece a oportunidade de fazermos algumas reflexões sobre o tema atendimento espiritual.
Há de se explicar que a mediunidade não é um fenômeno exclusivo do Espiritismo. Sabe-se que os Hindus há mais de 5 mil anos já dialogavam com espíritos (mediunidade) e que existem inúmeros relatos no Antigo e no Novo testamento de comunicações deste tipo em que os chamados profetas (médiuns) tinham visões e recebiam mensagens dos espíritos desencarnados de forma ostensiva, tanto que em dado momento Moises restringiu estas comunicações que estavam se tornando corriqueiras e vulgares fugindo de seus elevados objetivos. Convenhamos , ninguém proíbe o que não existe.
Paulo de Tarso, o apostolo dos Gentios e com certeza o maior divulgador da mensagem de Jesus, em sua 1ª. Carta aos Coríntios, no capitulo 14, nos oferece uma singular instrução sobre os tipos de comunicações mediúnicas e como tirar o melhor proveito delas.
Não se questiona mais sua realidade e por consequência de não estar ainda bem compreendido como fenômeno natural é colocado na galeria das farsas e embustes, assim como várias descobertas da ciência, em todos os tempos, que foram rechaçadas até se tornarem obvias. Encontramos dentre estas a teoria do heliocentrismo elaborada pelo astrônomo polonês Nicolau Copérnico, ou a descoberta dos microrganismos pelo cientista francês Louis Pasteur.
O grande erro que se comete e que deve ser combatido é a condenação da instituição que a tem como crença, seja ela qual for, baseando-se na má conduta daqueles que dela fazem uso. E neste caso não devemos nos abster de fazer o mesmo com relação a este episódio.
Citemos alguns exemplos.
Quem não lembra do famoso pediatra paulista Eugenio Chipkevitch que em 2002 foi acusado de abusar sexualmente de aproximadamente 35 crianças, seus pequenos pacientes. A descoberta aconteceu porque ele filmava os atos libidinosos que praticava para assisti-los depois.
Outra ocorrência que causou comoção em todo país foi a do famoso ginecologista paulista Roger Abdelmassih que também foi acusado e condenado pelo estupro se 52 mulheres, suas pacientes, durante as consultas.
Se fizermos uma pesquisa mais aprofundada sobre casos de abusos, tanto em crianças, adolescente e adultos, veremos que eles acontecem das mais variadas formas, nos mais inusitados locais e em todas as profissões ou religiões.
Pergunta-se: Você deixou de levar seu filho em um pediatra depois que ficou sabendo da notícia do abuso? E as mulheres? Suspenderam suas consultas ginecológicas?
Logico que não.
Felizmente temos a maturidade suficiente para saber que todas as instituições existentes, seja lá a qual fim se destinam, são formadas por seres humanos carregados de falhas e fraquezas morais e que o mau uso do poder pessoal de que são revestidos jamais poderá ser confundido com a instituição que representam.
Com relação ao caso de acusação de abuso sexual do médium, este deverá ser levado até as últimas consequências e se realmente for comprovado seus atos o mesmo deverá ser punido de acordo com nosso código penal.
Apenas não condenemos também a mediunidade. Ela certamente foi a vítima mais prejudicada.