Crônica As minhas tias eram assim
Poeta Antonio Agostinho
A tia Josefa amava a igreja e gostava de rezar o tempo inteiro de fazer a sua via-sacra como a igreja mandava. Bem diferente da tia Josefa era a tia Ana Rosa porque se preocupava com a luta de casa com dar de comer os seus animais e zelar os xerimbabos. A tia Ana não tinha tempo para rezar porque ela cuidava de outras coisas, cuidava da nossa comedoria e de outros afazeres domésticos. A Teté tinha tempo sobrando para estar na igreja para rezar todos os dias juntamente com os seus amigos. Esta minha tia tentou muito me inserir na igreja no entanto eu já tinha tomado outro rumo para os livros, já tinha na minha mente traçado o meu perfil de artista para não me infiltrar em coisas da igreja. A igreja para mim sempre vi como coisa tola nesta vida, um caminho que para mim sempre se tornou hipócrita, ou de pouca monta. Eu queria bem a tia Ana porque ela amava o trabalho, ela gostava da luta pesada e não esperava por ninguém nem deixava os seus afazeres por reza nenhuma. A tia Ana era uma senhora cuidadosa do nosso lar, era uma criatura responsável por tudo que era preciso ser feito. Já a titia não se preocupava com coisa que não fosse do seu prazer, ela amava os livros, gostava de ler e comentar algo interessante, falar de guerras, falar de artistas e fazer as suas rendas. Nunca ouvi a tia Marica falando de reza e muito menos de igreja, porque a tia Marica tinha outra visão, tinha a visão dos livros. Quase toda manhã eu ia com a tia Ana buscar capim para os seus animais e para a vaca bordada da tia Marica a nossa melhor vaca leiteira que criou todos nós. Era a tia Ana quem tirava leite de bordada e quem cuidava da mesma. O meu maior prazer era ir com a tia Ana ao rio Jaguaribe montado no nosso jumento mimoso, o melhor jumento do tio José. Estas três tias tinham vida bem diferentes no entanto nunca brigavam porque elas tinham boa compreensão e tinham sido criadas num regime severo. Eu tenho saudade destas três tias, contudo a tia Marica marcou a minha vida para sempre porque foi com ela que tomei o rumo dos livros para não seguir as baboseiras da vida como segue a maioria. O livro me mostrou o caminho mais honesto, um caminho onde o amor está presente e a mentira se esconde. Tanto a minha formação literária, como a minha formação humana eu devo a estas três celibatárias, irmãs do meu pai e minhas mães adotivas.