Compaixão
A palavra pede para ser escrita, por vezes, até implora e se humilha. O vento ensaia os fonemas, a música trama a trilha sonora e todo o momento sai embalado numa inflexão que aos poucos se revela. Expõe-se ao sol até queimar, como vampiros.
As narrativas estão dentro de nós como o sangue nas veias. E, correm silenciosas e sussurrantes. Confidenciam segredos, riem alto e sem pudor. E, as vezes, se esquecem de ter mensagem e se contaminam de lirismo e poética, com a mesma impunidade com quem vê o tempo passar e esquece de morrer.
Dizer tudo? Escrever sobre tudo? Ter a visão, a percepção, ou ao mesmo, a intuição da existência. Decifrar o significado de cada detalhe e da vida. É porque a vida não tem nenhum sentido que é necessário encontrar um.
Uma palavra, uma linha, um parágrafo e a redação corrente feita de alma, espírito e esperança. Os cruéis dilemas do escritor. Do observador acovardado que fica de canto de olho presenciando toda a dinâmica em sua imensa inércia. E, tudo é tão ilusório. O azul do céu. O movimento.
A velocidade da luz e das estrelas. O planeta feito de água que é chamado de Terra. Por laboriosos caminhos, os paradoxos se justificam. A poesia rima infinitamente com a música do vento e a culpa expia-se sozinha como num mosteiro, imersa em oração e compaixão.