O Tempo, o Celular e a Nossa Realidade

Posso ver essas cenas repetindo todos os dias e todas as horas. Do momento em que acordo até o minuto antes de eu dormir. O cenário vai mudando, mas a ação não.

Entro no trajeto para meu serviço, na sala de espera ou em qualquer outro lugar, nós deparamos sempre com algumas cabeças baixas reproduzindo freneticamente o mesmo ato. Vemos vidas sendo orientadas pela mesma luz retangular do smartphone. Vidas movidas por outras vidas.

Ufa, acho que vou ligar o meu, eu não quero ser o único que perdeu o botão de stop.

Stop? Só posso estar louco. Essa palavra anda tão desatualizada que ela só ganha significado nas 7 horas de sono, cronometradas pelo mesmo celular que me despertou. Isso se tivermos sorte!

Fora isso, praticamente nenhuma sociedade do século XXI tem tempo.

Estamos muito ocupados correndo atrás das demandas da rotina, tentando absorver parte do turbilhão de informações e imagens que recebemos por segundo. É corrido, eu sei. Então porque em nosso pouco tempo livre ficamos presos diante de uma tela?

Poderia ficar aqui citando inúmeras respostas, mas não chegaria à nenhuma conclusão. Além do mais, os motivos são diversos e variam de pessoa para pessoa.

Porém, na semana passada escutei que “enquanto estamos no celular não estamos no nosso corpo” e foi, a partir dessa simples frase, que refleti sobre o que eu acredito que seja o grande atrativo por trás desse aparelho: o escapismo.

Pense em quantas realidades, mesmo que ilusórias, podemos entrar em apenas uma mexida no celular. Hoje mesmo eu entrei em várias. Na fila do banco, li uma notícia das olimpíadas e voei rapidinho para o Rio de Janeiro. Pouco tempo depois, vi o nascer do sol em Fernando de Noronha a caminho do serviço, claro no ônibus. Na sala de aula, acompanhei vidas aleatórias no Snapchat ou no Instagram que pareciam mais interessantes que a minha no momento. Nos outros lugares a mesma coisa, só que em cenários diferentes.

E assim o nosso tempo voa em um piscar de olhos.

O quê? Já se passaram 3 horas?

Horas de ilusão, minutos de escapismo e vários likes de indiferença. Geração que de tanta informação, já até perdeu o botão de stop.

Stop? Aquele que pausa o virtual e dá play na realidade?

Ninguém quer ele não.

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Jova
Enviado por Jova em 12/12/2018
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