Estou na frente da parede onde fiz um mural da minha família. Demorei anos, mas acabei hoje. O mural do meu passado, da minha história. O reencontro com minha família, minhas raízes, minhas origens. Lembranças doces, lembranças amargas, lembranças que estavam adormecidas e o sofrimento tinham me feito esquecer.
          Quando essas fotos chegaram nas minhas mãos, os cacos espalhados durante a minha caminhada, juntaram-se novamente e percebi que eu também tinha momentos felizes para recordar. Foi bom saber que eu tinha uma família e que como qualquer outra, não era perfeita, mas que eu a tinha escolhido e nós tínhamos uma missão. Cheguei a conclusão que exigi perfeição e nunca fui perfeito. Como será que eles me enxergavam? Ou melhor, como eles me enxergam? Idealizar as pessoas e o amor é um caminho fácil para a decepção.
          Decidi encarar de frente as mágoas, os rancores e perdoar. Deixar que os bons momentos e os dias felizes sejam maiores. Perdoar não é fácil. É uma luta diária mas que vale a pena. Sinto-me mais leve, uma pessoa infinitamente melhor. O pior foi quando percebi o tempo que perdi com a alma envenenada de sentimentos ruins. Senti-me um completo idiota.
          Hoje mostro o meu mural para todos os meus amigos com muito orgulho. Essa é a minha família, digo em voz alta, e fico feliz ao ouvir o som da minha própria voz falando isso. Eles acertaram, eles erraram, amaram à sua maneira, mas se hoje existo e sou quem sou, é por causa deles.
          Um dia gostaria de ver minha foto no mural da parede de alguma familiar mostrando que fiz parte da história dele ou dela. Afinal esse é o verdadeiro sentido da vida.
José Raimundo Marques
Enviado por José Raimundo Marques em 09/12/2018
Reeditado em 09/12/2018
Código do texto: T6522909
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