Balé das flores.

No horizonte, acima das montanhas, nuvens avermelhadas anunciam o fim de mais uma tarde de quinta-feira. O escuro véu da noite se estende lentamente de um canto a outro, e será uma noite toda especial, justamente por ser tratar da apresentação da escola de balé que minha filha de sete anos faz parte.

Chegamos com alguns minutos de antecedência à escola de balé, 'Bella Arte'. Minha filha está muito ansiosa para a apresentação, minha esposa ansiosa por ver nossa filha ansiosa, eu, ainda mais ansioso vendo às duas ansiosas. Enquanto a minha filha termina de arrumar o cabelo e retocar a maquiagem com a ajuda da professora e da mãe, eu me sentei em meio a plateia, formada por pais, mães, avós, irmãos, dentre tantos outros convidados.

Há um número enorme de crianças na escola, — participantes e não participantes da apresentação — algumas correm sem parar, outras pulam, outras estão quietas no colo dos pais, outras apenas observam.

Imagino que os pais das alunas de balé compartilhavam do mesmo sentimento que eu, sentimentos difíceis de serem explicados, mas que na essência são bons, carregados de sentimentos de contentamento, sorrisos desavisados, teimosos fios de lágrimas nascendo a todo momento dos olhos. Não demora muito, e as crianças que ainda faltavam, chegaram finalmente, as demais meninas terminam os últimos retoques na maquiagem e no figurino. Está quase tudo pronto, o coração bate descompassado. A minha filha ficou belíssima por sinal, com o olhar sério, buscando concentração, às suas delicadas mãos inquietas, nervosismo ao extremo. Os últimos retoques finalmente foram concluídos, agora era começar o espetáculo.

Os primeiros a se apresentar no palco foi o grupo de teatro, formado por adolescentes e adultos também da escola de Balé. O grupo trajava vestes negras, maquiagem escura nos olhos, deram início a apresentação onde enfatizam os perigos 'dos vícios', da 'sociedade modernidade', perigos que envolve nossos filhos e que está cada vez mais presentes em nosso meio. Foi uma apresentação maravilhosa, digna de aplausos. Logo após ao grupo teatral foi a vez das pequenas bailarinas, o grupo de meninas de até seis anos. A beleza desses pequenos anjos sem asas fez com que muitos de nós derramássemos lágrimas. O terceiro grupo foi o das meninas maiores, — minha filha faz parte desse —, a apresentação foi de uma beleza indescritível, a leveza presente em cada movimento, girando na pontinha dos dedos, aqui e ali, sincronizando os movimentos de mãos e pés, foi maravilhoso ver minha filha dançar tão bem. Houve ainda outra apresentação do grupo de teatro, e foi justamente para finalizar a noite com chaves de ouro, nesta última apresentação o grupo de teatro fez alusão a nossa rica cultura, em uma performance engraçada e muito criativa. Foi tudo muito simples, sem exageros e nem excessos, porém, tudo feito com muito carinho, amor e dedicação. Houve ainda, ao final, um tempo reservado para degustação de salgadinhos, bolo, refrigerantes. Eu fiquei observando tudo em um canto mais reservado, confesso que a apresentação foi brilhante, com o toque 'é claro', do brilhantismo da professora da minha filha, 'Taís', à quem deixo os meus sinceros agradecimentos pela beleza de seu trabalho.

A música e a arte tem um poder de curar a alma doente, e hoje foi um desses dias, em que a minha alma sentia-se doente, entretanto, logo veio a se recuperar com doses precisas de arte, dança e música. Existem preconceitos de alguns quanto a diversidade de arte e música, mas, para aqueles que gostam, e tem a alma de um poeta, apresentações como as de hoje é um banquete aos olhos e ouvidos.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 09/12/2018
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