Ser sujeito
Lembro-me que quando jovem, ao estar no ônibus, olhava pela janela e via as pessoas passando em várias direções, correndo, sorrindo, com ar de tristeza, bem vestidas, suadas, com sacolas, com pastas... e sentia um vazio, um nada. Toda aquela movimentação das pessoas parecia um imenso formigueiro. Parecia que, de repente, nada fazia sentido e vinha uma grande interrogação: o que é o ser humano?
Ao mesmo tempo sentia um medo de tudo acabar, da morte. Para onde iriam todos?!
Rapidinho procurava trocar meu pensamento e colocar para cada pessoa lá fora um objetivo. Cada um, com certeza, sabia para onde estava indo, o que iria fazer, o por que de estar ali.
Quando olhava para dentro do ônibus novamente, colocava-me na posição de integrante do grande formigueiro. Vinha então a vontade de saber o que se passava na cabeça de cada um. Que sensação estranha saber que EU também faço parte do formigueiro e que não sei bem para onde vou, quem sou,qual o meu papel...! Tudo isso me causava uma incerteza tão grande que sentia vontade de chorar e, por vezes, chorava mesmo.
O mais interessante é que quando comentei essas sensações com algumas amigas , elas disseram que sentiam o mesmo (ufa, não estava ficando louca).
Acredito que toda esta inquietação foi o que me instigou a buscar conhecer um pouco mais sobre o ser humano. Na verdade buscava uma resposta concreta, definitiva: “o ser humano é isto, e ponto”, mas a cada lugar que fui e vou, a resposta é de que o “ser humano é muito complexo”!
Pelo idos de 2003, participei de um curso de formação (IDH) onde estudamos, entre as muitas teorias, Edgar Morin(antropólogo, sociólogo e filósofo francês) . Foi ai que consegui fazer a reflexão sobre a minha vivencia do ônibus sendo uma delas de que ali acontecia o Principio da Incerteza “...inicio de algo físico mas ao mesmo tempo subjetivo”, ou seja, eu sujeito perante a subjetividade da vida...Cada pessoa daquelas que via pela janela era um sujeito e levava consigo várias possibilidades de vida e de vivencias, que as diferenciavam mas que ao mesmo tempo as tornavam iguais por serem, simplesmente, humanas.
Hoje, aos sessenta e três anos, ando de ônibus sem tanto medo da finitude, da morte, mas ainda observo os - ires e vires da rua. Percebo que a incerteza me acompanha e acredito, que me acompanhará até o “final”, pois cada dia que chega é um novo dia e nunca sei bem como este sujeito aqui vai se “comportar” dentro do formigueiro, (*segundo Morin Sete são os saberes que precisam ser ensinados...sendo o Primeiro: Considerar erros e ilusões constantes nas concepções do conhecimento), afinal também sou humana e bem complexa, por isso, choro e faço chorar, sorrio e faço sorrir, quem ame ou o mundo que me cerca!
Vivendo e aprendendo, mas sempre procurando melhorar, este é o grande desafio do SUJEITO!