“VAGA-MUNDO” PT. 1

Saiu de casa sozinho, depois de muito protestar. Era uma mistura de preguiça com vontade de sair. Chegava às vezes a tomar banho e desistir... Só de pensar em ter de calçar o sapato..., só de pensar. Só de pensar no calor, só de pensar em entrar num ônibus cheio..., só de pensar. Ou de ter que correr e esperar..., só de esperar. Só de esperar quase cinquenta minutos pelo ônibus mais caro, com ar-condicionado, e que vêm vazio..., só de pensar.

Andou pelo condomínio e era um bom pedaço pra quem queria chegar até a porta. O sol castigava. A vontade que tinha era de ser tele transportado até a livraria que ele gostava. Se tivesse; “amor”, as coisas seriam diferentes, se tivesse alguém, seria diferente. Ele dizia à si mesmo que toda essa moleza vinha da tristeza de se saber só.

Na porta do condomínio ele avistou um taxi. Já eram bem conhecidos, pois preguiçosos sempre conhecem taxistas. O homem sorriu e foi aproximando o carro e entreabrindo a porta.

- ... indo pra onde?!

- Pouca grana hoje, vou ali no Iguatemi.

- Oxente... entra aí, menino...

O taxista o chamava de menino. Ele odiava ser chamado assim, mas havia uma foto de um cara de terno e gravata e segurando uma Bíblia, no carro dele. Provavelmente era seu filho... havia uma semelhança física entre os dois rapazes. O taxista era um cara muito gente boa. Na hora de pagar:

- Vinte tá “bãum”.

- Na próxima compenso viu?!

- “Podexá...”.

Parou em frente ao prédio enorme. Ficar alguns dias dentro de um quarto sempre fazia com que tudo parecesse mitologicamente gigantesco quando ele saía de casa. Estava feliz por não ter chegado no shopping suado e cansado. Puxou os fones de ouvido de um Ipod azul que ele carregava pra tudo quanto era canto. Pôs no ouvido e deu play.

A banda Pink Floyd tocava propiciamente uma música chamada “Welcome to The Machine”, e uma montanha de pessoas entrava e saía... eram frenéticos como formigas. Ele olhou mais uma vez pra cima e o sol ofuscou seus olhos, virou pra trás e viu que já estavam começando a armar uma enorme arvore de natal no meio da praça.

Por alguns segundos, pensou em chorar.