RECORDAÇÕES DE AGUINHAS - Uma vida na farmácia
Ilustração: Farmácia Santo Antônio, início dos anos 1960. Marialva Bacha e, ao fundo, Dé, meu pai (José Guimarães Filho, O Dé da Farmácia)
- Apresentação
- Fotos
- Uma vida na farmácia
- Referências
Apresentação
Boa parte da vida de minha família (Guimarães) está ligada às atividades de farmácias do interior, conforme já contei neste posts:
Boa parte da vida de minha família (Guimarães) está ligada às atividades de farmácias do interior, conforme já contei neste posts:
- Farmácia da Empreza - aqui
- Aprendiz de "farmaceiro" - aqui
- Muitos bateram à sua porta - aqui
- A vingança de Ben Hur - aqui
- Início da crônica Profissão: médico (aqui)
- Dona Catarina da Farmácia (aqui)
- Dona Beni e a magia das palavras (aqui)
- Aprendiz de "farmaceiro" - aqui
- Muitos bateram à sua porta - aqui
- A vingança de Ben Hur - aqui
- Início da crônica Profissão: médico (aqui)
- Dona Catarina da Farmácia (aqui)
- Dona Beni e a magia das palavras (aqui)
Pois bem, hoje trago um texto intitulado Uma vida na farmácia que faz parte do meu livro Os Curadores do Senhor (aqui), inspirado em minhas atividades na Farmácia Santo Antônio, como menino aprendiz de "farmaceiro", nos idos de 1960.
Vamos lá.
Guima, com 12 anos, nos tempos de "aprendiz de farmaceiro", pouco depois do caso que se conta abaixo
Fotos
Dona Beni Bacha (ao fundo) e sua filha Marialva, ao lado da tradicional balança Filizola
Marialva Bacha e uma cliente, no balcão da farmácia (início anos 1960)
Aguinhas, numa tarde do começo de agosto de 1963
ERAM DUAS HORAS DA TARDE quando o ônibus chegou ao centro de Aguinhas e parou na agência da Evanil. Dele apeou um homem alto, com mala e pasta de mão, que tratou de ajeitar bem o capote e o cachecol para enfrentar o vento gelado que subia pela rua assoviando e varrendo folhas e ciscos. Desse modo seguiu até chegar a uma farmácia bastante antiga e acreditada, bem posta na esquina da Rua Direita; quando chegou, a ventania já amainara. Ao entrar, deparou-se com um menino conduzindo um carrinho de madeira rústico, todo pintado de branco, a não ser na parte da frente, onde se podia ler na tábua de pinho o nome:
ERAM DUAS HORAS DA TARDE quando o ônibus chegou ao centro de Aguinhas e parou na agência da Evanil. Dele apeou um homem alto, com mala e pasta de mão, que tratou de ajeitar bem o capote e o cachecol para enfrentar o vento gelado que subia pela rua assoviando e varrendo folhas e ciscos. Desse modo seguiu até chegar a uma farmácia bastante antiga e acreditada, bem posta na esquina da Rua Direita; quando chegou, a ventania já amainara. Ao entrar, deparou-se com um menino conduzindo um carrinho de madeira rústico, todo pintado de branco, a não ser na parte da frente, onde se podia ler na tábua de pinho o nome:
TONIFORTIN
Dentro do carrinho, uma lata vazia de tinta Sherwin-Williams com lixo; um velho balde de aço estanhado com a marca ABI, com água pela metade; um recipiente de água sanitária; uma garrafa de cerveja, à qual fora colada uma etiqueta: Álcool; e uma pequena garrafa de guaraná em que se lia: Solução Ácido Fênico – Cuidado! Pendurados nos varais do veículo, de um lado, três panos, um para cada tipo de limpeza; de outro, vassouras e espanadores.
– Bonito carro, garoto, disse o homem. – Eu é que fiz, respondeu orgulhoso o pequeno. E certamente isso era verdade, que o manufator aprendiz deixara sinais de martelo, serrote, grosa a revelar um menino esperto, mas ainda inexperiente nas artes da marcenaria. Claramente era melhor na arte da limpeza, dado que o chão de ladrilhos surrados estava brilhando, as prateleiras espanadas, os vidros dos balcões impecáveis.
– Você fez bom uso da caixa de TONIFORTIN. Coisa rara! Difícil de se ver hoje em dia! – disse o homem. – Meu pai trabalhou com esse artigo, há muitos, muitos anos – falou.
– E a limpeza? – perguntou em seguida – Água sanitária no chão, álcool nas vitrines e ácido fênico na assepsia, não é?
– Isso mesmo! Como o senhor sabe?
– Eu também já fui menino-aprendiz de farmácia. Faz muito tempo. Depois virei farmacêutico. E você, vai ser farmacêutico também?
– Não, meu pai não pode pagar a escola. Eu vou ser “farmaceiro”, como ele.
– “Farmaceiro”?
– É... uma mistura de caixeiro com prático de farmácia. E emendou: – O senhor é farmacêutico ou viajante?
– Os dois, quer dizer, um farmacêutico que viaja propagandeando e vendendo produtos farmacêuticos – respondeu.
– Ah, como o dr. Paulo, da Rhodia. Espere um minuto que vou chamar meu tio, que é quem faz as compras – disse sorrindo.
– Por favor, faça isso. Diga que é Oliveros Lião, do LABORATÓRIO LIONÊS, do Rio de Janeiro.
- Agradeço a Nadeje Bacha (filha de Dona Beni Bacha e irmã de Marialva Bacha) a cessão das fotos acima.
- Os Curadores do Senhor - Antônio Lobo Guimarães (pseudônimo de Antônio Carlos Guimarães - Edição do Autor, 2013