Desolada
Termina mais um ano, eu me sentindo irremediavelmente desamparada. A pouco aproveitava umas férias forçadas, para pôr em dia as muitas pendências que foram se acumulando por muitos anos, uma vez que não tiro férias há cinco anos consecutivos. Ando me sentindo muito mais estranha, sentando às janelas dos tantos metrôs que pego, e um certo alívio (loucura) quando tirei um grande fardo dos meus ombros... Como viver sem uma renda mensal? Ao mesmo tempo, basta pensar amiúde, nas regalias que vou perder se não conseguir pelo menos daqui há três meses um novo emprego, só em pensar nisso, sinto calafrios. Aliás, pensando melhor do que poderia ter medo se não tenho ninguém dependendo de mim, não sou levada a luxos, exceto pela minha alimentação que... eu gosto de comer bem, muitas dívidas não tenho, não moro de aluguel, quer saber? vou aproveitar o tempo livre, fazer algo para sentir o gosto da minha liberdade. Tenho algumas economias que guardava para uma viagem de navio que havia programado com a minha melhor amiga, que agora está longe para sempre dos meus olhos porque tão jovem ainda, morreu. Havíamos combinado todos os detalhes, iríamos juntas para um cruzeiro, o nosso projeto de vivenciar algo diferente, foi impedido de repente me deixando desolada. A vida teve que seguir... Outro dia, na passagem do ano, enquanto eu via os fogos invadindo o céu, entre lágrimas e estrondos. Falei: Estamos comemorando tantas coisas, a transferência dos sonhos antigos para o novo ano, todos esperançosos com riso fácil, e eu continuo igual, o que nos aguarda para daqui a dois segundos, nem sabemos, alguns guardam as suas dores... E alguém que não lembro respondeu com outra pergunta: - Você acha que está certa pensando assim? - Dos meus lábios nem esboço de um sorriso se viu, ou resposta… Enquanto alguma esperança dentro da minha cabeça surgia, dizendo; Não lamente, espere ser feliz pelo menos nesse novo dia e assim sucessivamente. Era a resposta de mim mesma que eu estava precisando, otimismo e boas energias, que me vinha com um sabor de realização para o futuro no meu subconsciente. Quando percebi que havia viajado nos meus pensamentos, lembrei que era novo ano e eu começava mesmo desamparada, com a sensação de que não seria fácil nada de agora em diante, teria noites e noites de insônia. Não compreendia uma emoção gostosa invadindo a minha vida, naquela sensação de preocupação, à janela do metrô a liberdade escondendo meu medo pelo inesperado, talvez por poder agora ir para onde eu quisesse sem ter que cumprir horário. Por este ângulo seria mais fácil continuar à viver tentando a incansável busca pela tal felicidade.