CULPA TUA!

Eu tinha 13 anos quando comecei trabalhar numa fabriqueta de brindes na Rua Ana Nery, bairro Cambuci, SP. Lá trabalhava uma molecada de mesma idade e diversas aparências; uns mais escuros, outros mais claros, como se vê em qualquer logradouro público do Brasil.

Quando íamos pra rua na hora do almoço éramos confundidos e chamados de "moleques de rua", "favelados" e assim por diante. Eu pelo menos não era. Morava em Mauá, que naquele tempo ainda era um subúrbio distante, com pai, mãe e irmãos.

Um belo dia, sem qualquer razão aparente, um colega da mesma idade, de pele um pouco mais clara, resolveu me ofender em razão da cor da minha. Ele falou muita bobagem como se eu culpado fosse por esse fato; ofendeu pra valer pelo simples fato de eu ser negro, e eu quieto. Quando entendi que o limite havia sido alcançado, instintivamente, enfiei-lhe a mão na orelha; ele reagiu e saímos na "porrada", nos engalfinhamos e rolamos pelo chão. Quando fomos separados, eu estava com o olho inchado e ele com a boca cortada; acho que ninguém ganhou.

No dia seguinte ele me procurou, não foi pra pedir desculpas nem pra continuar o pugilato. Apenas pra me dizer que ele "estava apenas brincando comigo e que eu não tinha entendido nada, ele queria ser meu amigo, mas eu não queria ser amigo dele, meu problema é que eu era muito ignorante" e a culpa de toda desgraça era minha.

Ouvi calado, por um instante quase me senti culpado, porém rejeitei tal sentimento. Muito fácil cometer erros e diante das consequências, atribuir a culpa aos outros. É o que vemos até hoje.

Pensei com calma e tirei minhas conclusões. EU ESTAVA CERTO!!

Afinal, paciência tem limite sim, é o limite da dignidade.

Raul Correa Barcelar
Enviado por Raul Correa Barcelar em 06/12/2018
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