Crônica seu Raimundo
Poeta Antonio Agostinho
Sentava-se todos os dias no banco da casa do meu avô um senhor por nome Raimundo Elias que vinha contar histórias e tomar um cafezinho quente que a tia Josefa dava a quem chegasse em nosso lar. O senhor de barba branca e rosto comprido tinha sempre uma história para contar e um assunto novo para conquistar os seus ouvintes na hora que queria. O seu Raimundo tinha algo interessante falava muito alto e se cuspia todo que a tia Marica o achava parecido com um bobo ou uma criatura à toa. Quando eu estava cantando ao som da viola o senhor desconhecido aparecia para ouvir o meu verso e ficava calado como se ele entendesse de cantoria e estivesse a me julgar. Ninguém de Malhadinha tinha a certeza de onde veio aquele velho feio malvestido e muito falante. Dizia a tia Marica que aquele tipo de gente não merecia confiança porque ninguém sabia a sua procedência e as vezes era gente muito perigosa. O nosso ancião não dava descanso ao nosso banco e nem se cansava de tomar café e muito menos de criar suas histórias infundadas e de pouco sentido. A fala do seu Raimundo causava horror a quase todo cristão porque era ela aborrecida e num só diapasão horroroso. Eu gostava de ouvir as mentiras do velhote porque depois eu tinha algo para comentar e criticar com os meus amigos. A tia Ana mandava que eu respeitasse o senhor porque os mais novos tinham que respeitarem os longevos.
Eu sempre admirei ao seu Raimundo porque eu era um menino triste e qualquer coisa me deixava contente. Quem mais dava atenção a conversa do nosso visitante era tia Josefa porque tinha muito tempo para ouvi-lo e coração humilde para aceitar aquelas balelas todas. O seu Raimundo durou pouco acho que não chegou aos noventa anos e de uma hora pra outra fez a sua viagem derradeira sem dar notícia a ninguém. Depois da sua partida deixou a nossa Malhadinha triste porque perdemos uma figura estranha mas alegre.