A COISA TA ESQUENTANDO
Imagino um homem das cavernas, um neandertal, escondido atrás de uma moita, de tocaia, esperando a melhor oportunidade para abater um megaloceros giganteus, mais conhecido como alce gigante, que pasta sossegado no pré-histórico e verdejante capim.
Ele, o neandertal espreita, focado. Só tem olhos para o alvo. Observa cada movimento seu.
No outro lado do terreno, também atrás de uma moita outro neandertal, seu amigo, seu brother de tribo.
Com a evolução eles se deram conta que caçar juntos era bem mais vantajoso que sozinhos, com o inconveniente, é claro, que a caça deveria ser dividida. Mesmo assim compensava.
O neandertal número 01 (eles não tinham nome) aproveita-se da desatenção do desatento alce, que é gigante mas não é dois e arremessa em sua direção uma pedra do tamanho de uma codorna. Ele acerta, o alce corre em direção ao neandertal 02 que está no outro lado escondido na moita número 02.
Este por sua vez atira-lhe uma lança feita de chifre de auroque que passa a dois palmos de seu pescoço. Assustado o alce escapa para a direita em alta velocidade. Erro fatal. Alguns metros à frente estão, também de tocaia, os neandertais 03, 04, 05, 06, 07 que saltam sobre o animal e o abatem a pauladas.
Todos vibram com o sucesso da caçada. Não passarão fome por alguns dias, alimentarão seus pequenos e o melhor, não levarão bronca de suas neandertais esposas quando voltarem para suas cavernas.
Não percebem se está quente, frio, se o tempo anda piorando com o passar dos anos. Não.
Vivem o presente, sem preocupar-se com o meio em que vivem, não têm a mínima noção de onde estão ou se existem outros como eles espalhados pela terra fazendo a mesma coisa.
Alguns milhares de anos depois, cá estamos nós apavorados com o que fizemos com o planeta.
Desmatamentos descontrolados, excessiva emissão de gases na atmosfera proveniente de combustíveis fósseis que movimentam nossos carros zero.
Enfim, o homo sapiens abusa dos recursos que o planeta oferece como se estes fossem inesgotáveis e, para piorar as coisas, tem o pensamento leviano de que o planeta saberia dar destino ao lixo seu de cada dia.
Que arrumaria a bagunça que fez nele como se em algum lugar escondido estaria uma espécie de ralo gigante que escoaria todo o resultado de seu desleixo e irresponsabilidade.
Nosso planeta não é auto limpante como alguns pensam, meu relapso e desleixado leitor (e eu me incluo), acumulamos detritos por séculos e hoje não sabemos o que fazer com eles.
Desregulamos a temperatura, bagunçamos as estações e os ciclos naturais da vida até então imutáveis durante o tempo em que a terra viveu sem nós por aqui.
Aquecemos os mares, derretemos as geleiras, extinguimos centenas de espécies. Enfim fizemos um auê daqueles.
Somos o tipo de inquilino que ninguém gostaria de convidar para passar um tempo em sua casa.
E hoje vivemos numa sinuca. Ou mudamos nosso modo de vida, altamente destrutivo e devastador ou seremos destruídos por ele.
A questão é séria e necessita de uma transformação urgente.
Como era bom na pré história.